quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinícius de Moraes

Post Scriptum - Uma maravilha, mas que em nada significa que me rendi aos encantos brasileiros nem a acordos ortográficos. Ponto assente, ok?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Custo de oportunidade

Economicamente falando, ou melhor, escrevendo, Custo de oportunidade está directamente relacionado com princípio económico de que os recursos são escassos. Este princípio significa que os recursos são insuficientes para satisfazer todas as nossas necessidades, ou seja, sempre que é tomada a decisão de utilizar um recurso para satisfazer uma determinada necessidade, perde-se a oportunidade de o utilizar para satisfazer uma outra necessidade.
Lembro-me de dar este conceito no 10º ano com os meus tenros, simples 15 anitos no auge da minha carreira escolar e achar uma completa estupidez. Ir ao cinema ou ao teatro? Que tem? Vamos aos dois! Por que raio o custo de oportunidade existe? Não seriamos mais felizes com a sua completa inexistência?"
É verdade: nunca gostei de optar. Mata-me os poucos neurónios que restam depois destes 2 anos em Direito. Apesar do mui sábio Prof. Dr Pinto da Costa (não o presidente do FCP :p) dizer que temos cerca de 100 mil neurónios, temo que já não usufro a terça parte desse número.
Não me estou a inferiorizar com a pretensão de ser elogiada por vocês, caros leitores. Prometo.
Como os leigos dizem "Tempo e dinheiro são bens escassos". Tal tenho constatado muito frequentemente, principalmente quando entro num shopping.
"Escassez": palavra complexa, entristece muitos de nós, para não dizer a maioria. Devido à sua existência, encontro-me num dilema que me tira o meu maior prazer: dormir.
Sendo assim e fazendo juz, pela primeira vez, à minha fama, ajudem-me: não sei se devo optar por um saco da DKNY, Guess ou por uma estadia num spa. Ai, este custo de oportunidade deixa-me de rastos.
Finalmente, tenho fama e proveito!!!
Despeço-me deste modo com quase duas décadas de existência. Não querendo ser convencida (só superior): ao contrário da escassez e do custo de oportunidade, a minha existência neste mundo é fundamental para a humanidade.
Sem mais,

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Carpooling chega à cidade do Porto

Inserido no projecto europeu CiViTAS ELAN (www.civitas.eu), que reúne diversas cidades europeias com o objectivo de “... ‘mobilizar’ os cidadãos para um trabalho conjunto no desenvolvimento de soluções de mobilidade, limpas, garantindo saúde e acesso para todos”, a Câmara Municipal do Porto lidera um projecto-piloto que visa promover serviços inovadores e sustentáveis de transportes. Neste âmbito, uma empresa parceira do projecto está a desenvolver o estudo e desenvolvimento de uma plataforma de mobilidade de transporte partilhado – Rota Partilhada.

O portal Rota Partilhada permite o planeamento e partilha de viagens em carros particulares, melhorando a qualidade de vida dos seus utilizadores, reduzindo custos e optimizando recursos.
Decorrente de um estudo de mercado realizado na área da Asprela, definiu-se o melhor serviço capaz de responder às necessidades de potenciais utilizadores. O sistema actual, na sua versão de teste, permite a cada utilizador registado procurar por viagens que satisfaçam os seus requisitos e/ou criar viagens de sua iniciativa que posteriormente poderão ser solicitadas por outros utilizadores e partilhadas. Se o utilizador pretende partilhar o seu próprio veículo ou viajar à “boleia”, depende apenas da sua escolha. O modelo desta plataforma define-se como sendo uma rede social de partilha de dados de perfil dos seus utilizadores, criação e gestão de grupos de amigos e criação e gestão de viagens.
Permite igualmente a avaliação dos utilizadores e gestores de viagens com o propósito de garantir maior confiança no serviço a partilhar.

O projecto Rota Partilhada traz mais vantagens e maior flexibilidade face à pesquisa de trajecto mais próximos para o melhor horário que responda às suas necessidades de deslocação, possibilitando poupanças tanto ambientais como financeiras, garantindo que deixa de viajar sozinho.
O Município do Porto participa neste projecto desde Setembro de 2008 a Setembro de 2012, promovendo a implementação de medidas de transporte urbano sustentável, limpo e económico, e apoiando a cooperação entre cidades e a disseminação de resultados dentro do espaço Europeu.

Não deixe de expressar a sua opinião, e de contribuir para o desenvolvimento de uma Cidade mais próxima das necessidades de cada um! Colabore acedendo a: http://www.rotapartilhada.com/



A-DO-REI!!!
Esta onda relaxada faz bem a qualquer um.
Muito bem...

domingo, 26 de setembro de 2010

Só tu me fazes sentir em casa.
Só tu me alegras nos piores dias.
Só tu para me acelerares o coração com toda a tua beleza e magnificência.
Só tu me forneces o oxigénio que preciso.
Só tu para me fazeres sentir completa e integra.
Só tu me dás a força que preciso para sobreviver a este caos.
Basta saber que me estou a aproximar de ti que mudo completamente de humor.
Tenho saudades de passear de manhã, de tarde, de noite, de madrugada pelas tuas ruas.
Tenho saudades do tempo em que sabia que podia ficar contigo por tempo indeterminado.
Sinto-me triste e culpada por não passar contigo o tempo que mereces.
Mas foste, és e serás sempre a minha residência, o meu lar.
Adoro-te por isto e por muito mais.

Cheguei ainda há pouco e já vou embora. Levo-te comigo, tu sabes. Esta minha adoração por ti já vem de longe. Pode ser considerada estranha, absurda, exagerada, mas tens esse efeito em mim. Que hei-de eu fazer?
Obrigada pela recepção: Rui Veloso ao vivo contigo vai ser outra coisa. Ainda bem que não foi em Braga, nem na Póvoa, nem em Espinho. As cirscunstâncias da vida não permitiram e fico muito feliz.

Eternamente contigo
(já merecias uma cena destas, lamechas e parva!)

sábado, 25 de setembro de 2010

Carta (Esboço)

Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação ;
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.


Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”

Sonhos

Se ela soubesse por que tremo às vezes
Como um junco nas bordas de um regato;
E àquele olhar de uma volúpia ardente
Fecho os meus pobres olhos de insensato.

Se ela soubesse por que a mão convulsa
Sinto ao pousar em um adeus a sua;
E por que um riso de amargura e tédio
Pousa-me no calor da face nua;

Quem sabe se piedosa, no silêncio,
Em oração, à noite, me alembrara;
E por mim em meu êxtase querido
Uma furtiva lágrima soltara!

Quem sabe, se amorosa, pensativa,
Amadornada em lânguidos desejos,
Viria compulsar-me o livro d'alma
E minha fronte batizar de beijos...

E saberia então que de soluços
Os lábios me entreabrem de paixão!
Que de prantos resvalam de meus olhos,
Com o orvalho de minha solidão!

Veria que este fogo de meus versos
É a febre de amor de meus suspiros,
Onde me vai a flor da mocidade
Como flor que enlanguece nos retiros.

Mas... são sonhos, meu Deus! estes tormentos
Irão comigo resvalar na cova;
E serão o crisol de meu espírito
Quando passar a uma existência nova.

Sonhos de insensatez! delírio apenas!
Cresceu em alta rocha a flor querida;
Verme rasteiro tateando os ermos
Não beberei naquele seio — a vida!

Passarei como sombra ante os seus olhos.
Frios, sem eco — soarão meus cantos;
E aqueles olhos que eu amei, calado
Não me hão de as cinzas orvalhar com prantos!

E nos silêncios de uma noite límpida
Sobre a campa que me há de enfim cobrir.
Da flor daqueles lábios — uma reza
Como um perfume não virá cair!

Devanear eterno! o amor de louco
Hei-de fechá-lo na mudez do peito...
Vem tu, apenas, lânguida saudade,
Noiva dos ermos — partilhar meu leito!

Machado de Assis

Um suspiro

Beijo
Pedro Abrunhosa

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

You've got to hide your love away



"Love will find a way"
Tão bonito! =)

Beijinhos!




Warm sun feed me up
And I'm leery loaded up
Loathing for a change
And I slip some boil away


Swallowed followed
Heavy about everything but my love
Swallowed sorrowed
I'm with everyone and yet notI'm with everyone and yet not
I'm with everyone and yet


Just wanted to be myself
Hey you said that you would love to try some
Hey you said you would love to die some
In the middle of a world on a fishhook
You're the wave
You're the wave
You're the wave


Swallowed borrowed
Heavy about everything but my love
Swallowed hollowed
Sharp about everyone but yourself
Swallowed oh no
I'm with everyone and yet notI'm with everyone and yet notI'm with everyone and you're not
I'm with everyone and yet


Piss on self-esteem
Forward Busted knee
Sick head blackened lungs
And I'm simple selfish son


Swallowed followed
Heavy about everything but my love
Swallowed oh no
I'm with everyone and yet notI'm with everyone and yet not
I'm with everyone and yet not


Got to get away from here
Got to get away from here
Got to get away from here
Got to get away from here



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Trivialidades

"Finalmente ganhara coragem para ver o verdadeiro significado da palavra ‘confiar’. Ao longo destes anos, apercebeu-se inúmeras vezes que a definição assimilada por si não é mesma dos outros.
Sentiu necessidade de escrever a sua própria definição, antes de iniciar qualquer busca.
Ao escrever o que sente, diminui a febre de sentir. Para ela, confiar é seguir instruções de olhos fechados sem medo de se espetar contra um poste. É sentir as costas protegidas, as mãos quentes, o coração a palpitar no ritmo certo. É como quando um cego acredita no cão que o guia. Neste ponto, um pouco irracionalidade seria muito benéfico.
Deixa-se levar pelo pessimismo antropológico e segue a ideia de que esses "cães" resultam de uma pura construção abstracta da nossa mente.
Depois de tantas subtracções precipitadas, talvez infundamentadas revelando a infantilidade que pauta o fim da adolescência, quis ter vontade de confiar de olhos fechados, de mãos atadas. Errou. A vida é feita de erros. Só assim é que se aprende.
Custa-lhe a acertar. Revolta-se pelo facto de até um relógio avariado conseguir estar certo duas vezes por dia.
Esta desilusão constante e perpétua deixa-a confusa, mas forte; triste, mas atenta; perspicaz, mas desconfiada. Tudo tem o seu lado bom e mau. Depende da perspectiva adoptada.
Escutou a canção vezes sem conta. Continua a não fazer sentido. Nunca conseguiu acreditar no que ela transmitia. Deveria? Inclina-se para a negativa.
Ser uma boa diplomata nunca o conseguiu. A transparência, apesar de indesejada, percorre todo o seu corpo. A verdade é algo que nela impera. Quando a mentira surge, a ruptura é imediata, inevitável. Por mais que a tente contornar, não consegue. A desilusão apodera-se dela. A razão afasta-se. A experiência de vida dissipa-se e toma atitudes de alguém que ainda há pouco saiu do ventre materno.
Após a confiança ser traída, não faz sentido retomar algo que tem o fim a bater à porta. Para quê se dar ao trabalho? Nunca gostou de falar em vão, muito menos insistir em algo que já está concluído.
Depois da sua busca incessante, eis que surge a definição que supostamente deveria ser universal: "ter confiança; acreditar; entregar ou comunicar alguma coisa a alguém sem receio de a perder ou sofrer dano; revelar, transmitir; entregar-se; descansar em alguém".
Perante isto, parece absurdo esta palavra ainda ser usada no nosso quotidiano. Deveria prescrever por falta de se fazer valer.
Todos já quiseram "descansar em alguém" e saíram de lá mais cansados do que quando entraram. Uma noite mal dormida marcada por um pesadelo. O problema é quando essa noite se prolonga para o dia e o pesadelo se torna realidade.
Chegou à conclusão que não quer mais descansar, nem se vai obrigar a fazê-lo. Evita males maiores. Passa a conjugar o verbo "confiar" no Pretérito Imperfeito.
Eu confiava...

Sem mais,
Dra. Cromo Filosófica"

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Frasco de Fel

Tu sentes o meu coração a bater, forte. Dentro de ti, como a ferver, em panela lata, sem curva, mas cheia de manchas. Passo lento, pé entre pé, légua por légua, num caminho quase fundo de ferido de morte. Poltrona está vazia. A cama está vazia. O quarto está só como o peito ficou quando do canto desapareceste. A melodia do Adeus, que é o tempero dos anjos e santos, perdeu-se. Se pudesses sentir o coração a ferver, impaciente... Remedeio as hipóteses e fecho portas e não refresco as janelas dos quartos que já vi. E, provavelmente, a cura divina, esse frasco de fel, já não adianta de nada... já não sara nada... já não serve para nada.

Luís Gonçalves Ferreira

Diário de Viagem: Instância terceira - uma filosofice

Tenerife, 20 de Setembro de 2010
É, finalmente, o dia da partida. Não é que importe o sítio para onde se vem, não é que obrigue o coração a pedir mais, mas é, por certo, aquilo que a alma solicita: o regresso onde fomos felizes e onde nos sentimos confortáveis. Espanha é fria de mais. Nem por ser este o arquipélago onde Saramago escolheu viver que as coisas são diferentes. Tenerife é praia escura, mar revolto e uns hotéis de artifício, eficientes, europeus por demais. É assim as férias dadas ao luxo e ao conforto humanos. E não era nada disto que eu vim escrever. Ia-vos dizer, caros amigos, que tenho pena de não ter escrito mais durante as férias. Só me lembrei do computador, a bom paleio verdadeiro, há uns dois dias atrás, embora a vontade de me lançar sobre as linhas tenha aparecido antes, quando a caneta pedia, entre os dedos, umas linhas mais fartas que uma firma e um número de quarto. Foi pena. Mais sobrará para o que ainda vem e o que ainda resta. Para o solo que irei pisar, daqui a umas horas, completamente luso e de sangue estranhamente saudosista. Sinto falta de Portugal. E precisava escrevê-lo, aqui e agora.

A cascata artificial, fria, faz barulho, ali ao fundo. Oiço gente de todas as línguas como pano de fundo. Tenerife é isto: um luxo artificial em jeito de esperanto. Aqui ao lado, na costa, paira a África Negra, feito de Senegal e outros demais negrismos que chamam a isto tudo de futilidade. Não que me tenha ocorrido, assim de repente, uma Floribella à cabeça, mas também penso nesse tipo de mundialidades e discrepâncias térreas. Não temos nada mais que ele, em termos substanciais à Humanidade que possuímos em igual peso e medida. Temos a mais de artificial. Como a cascata que plantaram, lá longe, no meio do hotel para ficar belo. A beleza é um artificio, na verdade. Artificial é, reparemos, tudo aquilo que se inventa para nos dar conforto e distanciar dos outros. Aliás, o conforto é artificial. Artificial é o acessório, o secundário e o relativo. É tudo artificial. A língua que nos popula as bocas, e nos torna diferentes por remédio sólido, é artifício. Não acredito que alguém concordo com estas linhas escrita à pressão nem que tomem isto como algo fulcral. Mas saiu e cresceu de dentro de mim. É artificio, também. 

Há cadeiras. Que são postiças coisas. Há água doce, metida em tanque, que nem ferve nem anda como na sua natural situação. É postiça, portanto. Há gente, vestida, cheia de coisas acessórias. São postiças, deduzo já. E cartas. E carteiras. E um computador. E uma bateria que vai findar, se não vos termino isto a tempo de ir almoçar.
Estou quase a partir. E isso, bem vistas as coisas, artificial ou não que seja, consegue-me agradar profundamente. 

Sem mais,
Luís Gonçalves Ferreira

Diário de viagem: instância segunda - a saudade

Tenerife, 18 de Setembro de 2010 
Não é que o tempo importe nem que o relógio abrande, mas sinto vontade de regressar a ti, neste instante. Tenho sentido que a tua falta me torna mais frágil e instável. O sol quente, que não fere a pele cor-de-chocolate, abranda o frio que me consome quando te recordo. Tenho vontade de, ao primeiro instante no regresso, me revelar a ti, por completo. Sei que resposta me darias. E sei o que me confessarias. É por isso que me contenho e penso: já disse tudo e não me cabe dizer mais nada. É essa a verdade a que me tenho de prender. 
Espero por ti, invariavelmente, no teu leito dia sobre dia, perto como longe, no sol e na chuva, sempre num relento, de brisa, que se chama amor. Não sei quando isto vai terminar, até porque consigo possuir segundos, horas e até dias que me contento com a tua amizade. Os momentos de desprazer e fragilidade fazem-me recordar tudo o que passamos juntos... tudo o que sonhamos juntos. 
E com isto, às últimas horas do antepenúltimo dia de férias, apetece-me, pela primeira vez, debitar sal e reconstruir catedrais. Sal que são obra de lágrimas. 

Sem mais,
Luís Gonçalves Ferreira

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os Livros Estão Sempre Sós

Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.

Ana Hatherly, in 'Tisanas'

As coisas mais simples

As coisas simples dizem-se depressa; tão depressa que nem conseguimos que as ouçam. As coisas simples murmuram-se; um murmúrio tão baixo que não chega aos ouvidos de ninguém. As coisas simples escorrem das prateleiras da loja; tão ao de leve que ninguém as compra. As coisas simples flutuam com o vento; tão alto que não se vêm.

São assim as coisas simples: tão simples como o sol que bate nos teus olhos, para que os feches, e as coisas simples passem como sombra sobre as tuas pálpebras.


Nuno Júdice

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende até ao mar
Quem te vê ao vir da ponte
és cascata são-joanina erigida sobre um monteno meio da neblina.
Por ruelas e calçadasda Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastase lampiões tristes e sós.
E esse teu ar grave e sério
num rosto de cantariaque nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria
Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
ver-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa

"Quem escreve assim não é gago" já diz Rui Veloso.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro

Nem mais! Um hino aos perfeitos desastes da natureza, que tremem das pernas como varas verdes, ficam com o discurso (que havia sido todo treinado de véspera) sufocadíssimo na garganta - que cujas cordas vocais só conseguem emitir vagos múrmurios, em acorde com a cabeça que abana mecânicamente em concordância -, atingem os desvaires dos suores frios e fogem aos sete pés e sete ventos naquelas alturas em que o terror é certeiro e eficaz (sim, e até se espetam contra paredes, ou vão por becos sem saída, sei lá! Not sexy.). Pessoa sabe-a sempre toda. Enfim.

GAS'África



http://www.gasafricaporto.page.tl/

"No final do caminho, apenas me perguntarão: «Amaste?»
E eu não direi nada. Abrirei as mãos vazias e o coração cheio de nomes."


Candidatos a acompanhar-me, há? :)

domingo, 5 de setembro de 2010

Carlos Paredes, o melhor dos melhores!



Oxalá pudesse eu Despertar daqui - e voltar a Agosto e às suas tardes paradas pelo abraço do calor! Ingrata Administração Pública. Malditos sejam, Marcello Caetano, Freitas do Amaral e todos vocês - iuris peritissimus - que dificilmente tinham família em casa e gatos para vos aquecer os pés.

Foi um desabafo. Triste, mas teve que ser.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Processo Carlos Cruz


Proferiu-se, não transitando ainda em julgado, há poucos minutos, a leitura do acordão que mais esperei assistir ao longo da minha vida. Denominei este post de "Processo Carlos Cruz" ironicamente, aspecto derivado do facto de só se saber relacionar esta quezília política com o mediático jornalista, ao invés dos badalados nomes do nosso sistema governamental.
Vou-me abster de qualquer tipo de comentário - este conteúdo só servirá como mero marco efemérico.

Ter-se-á feito justiça? Alea Jacta Est!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Homens VS Carros

Antes de começar a dissertar sobre esta temática, que por sinal se assemelha bastante interessante, quero afirmar que sou uma acérrima defensora dos direitos humanos.
Uma pessoa não se compra, apesar de no desporto se utilizar essa terminologia. Sempre achei absurdo, já desde tenra idade. Bem, mas não estou aqui para falar da minha infância que é bem enfadonha, não para mim, mas para vocês.
Simplesmente vou começar por expor algumas ideias que provavelmente suscitarão alguns pontos de interrogação nas vossas brilhantes mentes. Não é de todo o meu objectivo ferir susceptibilidades ou ter um discurso feminista.

Ora, quando passamos por um stand de automóveis podemos olhá-los, desejá-los sem sermos alvo de julgamento. Para além do mais, poderemos eventualmente comprá-los. Ponham esta situação (só na teoria p.f) em acção, mas em relação aos homens.
Imaginem-se, caras senhoras, saírem à rua e passarem por um aglomerado de homens e terem aquele comportamento supracitado. “Ai Jesus, aquela mulher deveria ser internada. Maluca!”. É nesta sociedade em que vivemos. (A vontade de os comprar não tem sentido em relação aos homens!)

Agora, vamos imaginar que entramos no stand. Agrada-nos o que vemos. Queremos fazer um test drive antes de qualquer comprometimento sério. Sim, podemos fazer isso com os homens, mas não será que os estamos a usar? Podemos sempre ferir os sentimentos deles (se é que na verdade existem). Ah evitem rejeitar alguns. É que depois surge cada história disparatada.

Fizemos o test drive. Adoramos a sua performance. Compramos. A conta bancária fica mais magra, mas a boa notícia é que o nosso ego aumentará de certeza. Mostramos à sociedade, aos amigos. O máximo que nos pode acontecer é ser invejadas. Agora, e quando mostramos o nosso homem à sociedade? Corremos o risco de aumentar uns centímetros (se bem que indesejados!), bem como ouvir uns comentários se a coisa der para o torto.

Após o momento da venda, o carrito vem sempre atestado. Ainda dá para dar umas voltinhas à pala do stand. Iludem-nos um bocado, mas após uns kms percebemos logo a sua raça. Basta injectar combustível que os meninos voltam a andar. Agora e com os homens? Iludem-nos durante muito, muito tempo até nos apercebermos que comem como uns animais. Questionamo-nos: quem vai ter de cozinhar para aquele leão?

O carro ficará estacionado em frente aos nossos olhos por tempo indeterminado. Nós temos as chaves. Será que podemos estacionar os homens por tempo indefinido? Ah claro: quando ficam sentados no sofá para ver a bola. O problema é quando a bola se torna parte integrante deles.

Saímos do trabalho com uma enorme pressão sob as nossas costas. Quem é que não gosta de a descarregar, principalmente na estrada? Os nossos carros ouvem-nos, aturam-nos, não falam e deixam-se levar por onde nós quisermos. Com os homens? O mais provável é não quererem ouvir e darem conselhos disparatados. Os mais simpáticos levam-nos a jantar fora. Talvez levem os tampões para conseguirem usufruir de uma refeição sossegada. Maravilhoso.

Os carros trazem sempre consigo o livrete (agora, o documento único de automóvel), identificando todas as suas características, até o seu prato favorito (e único!). Os homens? Não. Temos que fazer um imenso esforço para conseguir decifrar aquilo que eles gostam, partindo do principio que os queremos agradar. Como percebe-los? Eis o cerne da questão. Penso que a suprema inteligência feminina não consegue descer tão baixo por mais que tente ao ponto de perceber o ridículo de que se compõe a massa cinzenta masculina. Eles não são complexos São demasiado fáceis, de tal modo que a pica de os perceber se desvanece logo após a primeira tentativa de compreensão.

Se porventura, o carro revelar alguns distúrbios, não temos qualquer problema de os devolver à origem (se ainda estiverem dentro da garantia!). Será que poderemos fazer o mesmo com os homens?

Quando vamos buscar o carro, sabemos se ele é um 1.4, 1.6, 1.9, 2.0. Com os homens? Depende de uma panóplia de factores.

O mais importante, pelo menos para mim, é que o carro estará lá sempre para nós, sem nunca nos atirar à cara que já nos aturaram inúmeras vezes. Terá os mesmos gostos musicais. Gostará das mesmas cidades que nós. Apreciará cada km percorrido feito por nós. Aceitará qualquer mudança, desde que se tenha respeito pelos seus princípios. Compreenderá se o deixarmos sozinho por algum tempo, pois saberá que durante essa ausência, esteve sempre no nosso pensamento. Nunca vai colocar isso em questão. Quem disse que é preciso falar para comunicar?
Saberá que se o queremos perto é porque realmente queremos senão não nos daríamos ao trabalho.
Numa descida, andará sempre connosco, mesmo sem qualquer incentivo.
Sim, é isso que nós, mulheres, desejamos.

Bem, parece que o carro consegue combater eficazmente o homem. O problema é que a espécie humana acabaria. É ditar o fim de algo maravilhoso da natureza.

Trivialidades

Não, não esperem que eu chegue com boas conclusões ou sábios pensamentos. Apesar de me esforçar para tal, a verdade é que o meu cérebro entrou de férias. Aliás, tudo em mim abriu as portas à sra preguiça.
É-me complicado exprimir a revolta que os meus poros suam quando tento pensar, falar a sério e não consigo. São neste assaltos de estupidez, quiça, efémera loucura que me deparo com a minha tardia adolescência. Uma pessoa julga-se adulta e não é que, de vez em quando, se tem 20 minutitos de pura estupidez. A seguir, surge uma melancolia que sai como entrou: sem qualquer permissão ou explicação. É um vai e vem que eu não consigo descrever. Será que existem estudos científicos? Se houver, informem-me. Nutro uma curiosidade infinita.
Assumo, sou complexa. E esta minha complexidade tanto me alegra, como farta. É muito mau quando não nos compreendemos. É como palmilhar um terreno minado. Por vezes, parece que alguém extrovertido se apoderou do meu “eu” recatado que tanto prezo.
Cresci rápido demais, isto é, tive a vontade de ser adulta mais depressa do que os outros. Ninguém me forçou. Essa vontade foi totalmente desejada por mim. Não sei porquê. Agora, em vez de crescer (não em altura, não para os lados, mas a nível emocional, psicológico), parece que estou a decrescer. A sociedade confirma e o Casino (da Póvoa!) é a prova viva.
Larguei os saltos, ou será que caí deles? Eis a questão.
Os meus 19 são os supostos 15 que deveria ter vivido?
Bem, tudo isto para dizer que cheguei a uma brilhante conclusão: ao longo do ano escolar, abro mais vezes o porta-moedas do que o porta lápis. Sim, são estes os meus pensamentos de Verão. Nada parvos, nem demasiado óbvios para quem me conhece. (Eu tinha avisado que não ia sair nada de muito inteligente. É impossível ser alvo de sanção) São nestas alturas que os meus poros dilatam de tanta irritação. Lá está: onde andam os meus saltos? Não sinto falta deles, mas deveria?
Concluindo, isto é um mero desabafo que tinha de surgir indubitavelmente. Ai, esta indolência deixa-me consternada, preocupada e irremediavelmente irreconhecível. Diz-se, por aí, que a culpa morreu solteira. Neste caso, não concordo. Arranjei-lhe companhia (este altruísmo não me larga, eu sei!) : o Direito. Ora lá está uma excepção à regra.

p.s: prometo que o objectivo da publicação deste texto não é de ter uma consulta de foro psicológico à pala.


Dou o merecimento dos autos

Revolta em Maputo



A manhã está a ser violenta nos arredores de Maputo. A polícia foi alvo de apedrejamentos e disparou para dispersar a população que foi para a rua protestar contra o aumento do custo de vida. Há pneus a arder em alguns bairros e muitas entradas na capital moçambicana estão bloqueadas. Milhares de pessoas estão nas ruas onde não há transportes a circular. Não havia nenhuma greve planeada, mas circulou através de telemóveis e na internet o apelo a um protesto contra o agravamento dos preços agendados para hoje. A água e a luz sofreram um aumento. O preço do pão também deverá custar mais esta semana. No centro de Maputo o movimento é pouco e muitos dos estabelecimentos estão fechados.
2010-09-01

Nunca estive em Moçambique pelos meus próprios pés, porém sempre foi o palco imaginário das minhas fantasias da tenra idade. Berço da minha família materna, cresci a ouvir histórias das suas gentes, das suas paisagens de cortar a respiração, da fauna inóspita, do ar quente misturado com a chuva tropical. Sentia-lhe o cheiro doce e revoltado, sabia-lhe o cravo, a canela e o caril e ouvia ao longe os baques da Marrabenta. Construí um imaginário de um sítio aprazível e inigualável, o que se tornou num sonho em lá voltar. Voltar, sim, pois estive lá durante vinte quentes e felizes anos, nem que fosse a amadurecer dentro da barriga da minha mãe. África sempre foi a minha Utopia.

Tenho este país como uma preciosidade também minha, e dói-me vê-lo como acabei de o fazer por estas imagens. O jornalista referiu-se a Maputo como sendo uma cidade praticamente abandonada - tocou-me indignadamente. Acredito com fervor que a população que lá habita é totalmente pacífica, portanto o que os leva a reagir desta forma é certamente uma tremenda injustiça. Cuidaram de nós como irmãos. São genuinamente bons. Por impedimentos inultrapassáveis, não pude lá ir realizar o voluntariado que pretendia. Para o ano vou tentá-lo novamente. Paulo Coelho já profetizava: "Escuta o teu coração, ele conhece todas as coisas. Pois onde ele estiver, é onde estará o teu tesouro". Há chamamentos inadiáveis!

Não deixem que vos pisem, nunca; possuem uma terra fortíssima. Um bocado à boa moda do avô da minha amiga Diana: "Se não nos orgulhamos do que somos, quem se orgulhará?" Eu orgulho-me. Um até já!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Simpatias, tive-as sempre, e de todos. Nem ao mais casual tem sido fácil ser grosseiro, ou ser brusco, ou até ser frio para comigo. Algumas simpatias tive que, com auxílio meu, poderia - pelo menos talvez- ter converitdo em amor ou afecto. Nunca tive paciência ou atenção do espírito para sequer desejar empregar esse esforço.
A princípio de observar isto em mim, julguei que havia neste caso da minha alma uma razão de timidez. Mas depois descobri que não havia; havia um tédio das emoções, diferente do tédio da vida, uma impaciência de me ligar a qualquer sentimento contínuo, sobretudo quando houvesse de se lhe atrelar um esforço prosseguido. Para quê? Pensava em mim o que não pensa. A minha fraqueza de vontade começou sempre por ser uma fraqueza da vontade de ter vontade. Assim me sucedeu nas emoções como me sucede na inteligência, e na vontade mesma, e em tudo quanto é vida.
Mas daquela ez em que uma malícia da oportunidade me fez julgar que amava, e verificar deveras que era amado, fiquei, primeiro, estonteado e confuso, como se me saíra uma sorte grande em moerda incorvetível. Fiquei, depois, porque ninguém é humano sem o ser, levemente envaidecido; esta emoção, porém, que pareceria a mais natural, passou rapidamente. Sucedeu-se um sentimento difícil de definir, mas em que se salientavam incomodamente as sensações de tédio, de humilhação e de fadiga.

Passou de mim, como até mim veio, esse episódio na sombra. Hoje não resta dele nada, nem na minha inteligência, nem na minha emoção. Não me trouxe experiência alguma que eu não pudesse ter deduzido das leis da vida humana cujo conhecimneto instintivo albergo em mim porque sou humano. Não me deu nem prazer que eu recorde com tristeza, ou pesar que eu lembre com tristeza também. Tenho a impressão de que foi uma coisa que li algures, um incidente sucedido a outrem, novela de que li metade, e de que a outra metade faltou, sem que me importasse que faltasse, pois até onde a li estava certa, e, embora não tivesse sentido, tal era já que lhe não poderia dar sentido a parte faltante, qualquer que fosse o seu enredo
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Livro do Desassossego por Bernardo Soares, 1.ª parte