quarta-feira, 30 de junho de 2010

See ya...

Foram assim os últimos minutos na "nossa" casa. Deitada no sofá, já sem o lenço oriental que o cobria. Esperei, ansiosamente, pela entrega das chaves. Ansiosa, porque detesto despedidas. Cada segundo foi passado a pensar no que ali vivemos. Senti um aperto no coração, assumo! Um misto de felicidade e saudade. Não sei se gosto da sensação, mas é isto que nos distingue dos animais irracionais. Já fui mais emotiva. Agora, tento-me conter. Não me perguntem a razão.
Fiquei ali deitada como se fosse uma espectadora, como se não tivesse sido uma das principais actrizes desta peça. Observei até à última cena. Foi, de facto, a peça mais rápida, mas a melhor que alguma vez já vira. A mais real, tenho a certeza!
É estranho como nos pegamos às coisas. Pegamo-nos devido àquilo que elas nos fazem lembrar. Esta faz-me recordar bons momentos, desde as nossas noites em frente à tv a fazer as unhas, os jantares de comer até cair para o lado, das sobremesas "só de frutos vermelhos"(ah vá lá, havia um fruto branco que também é muito bom!) antes de testes de teoria, dos serões, das tardes sem fazer nenhum, das manhãs bem passadas sem ir às aulas das 9, ou 11 e por vezes das 14...Vou ter saudades do meu colchão.
Tive vontade de abraça-la como se abraça um pai, um irmão, um amigo. Foi um abraço emocional.
Soube bem, mas foi pouco.
Em Setembro, iremos escolher outro lar para nós todos. Fizemos uma família em Braga. Eu sou a mãe (pelo menos para guardar os bilhetes do cinema)!!! Hoje não estou para grandes declarações de amor, mas vocês sabem que estão cá dentro. Foi dificil a conquista, mas agora derreto-me para vocês. Hein, valeu a espera?! xD
Tenho que remar para o distrito do Porto...
p.s: vou ter saudades de Braga durante estes dois meses xuuuuuuuuuuuuuuu (fica só entre nós!) Nunca pensei vir a dizer isto.
Continuo com a minha raça vimaranense intacta.É algo imanente ao meu ser.
Ate já!

sábado, 26 de junho de 2010

A caneta

Tirei dois dos imensos post-it do lote amarelo que paira na secretária que me ampara o estudo. Colei-os na secretária, branca e suja de lápis, e escrevi, em cada um deles, uma das seguintes frases:

- Se plantares uma árvore escolhe um terreno fértil.  

- Se plantares um sentimento escolhe um coração puro;

Luís Gonçalves Ferreira

PS.: Este post continha um erro. Este foi devidamente corrigido e republicado. 

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago

http://www.radioenciclopedia.cu/2009/noviembre/04/saramago.jpg

Morreu Saramago, aos 87 anos, numa ilha distante, desértica, de território espanhol. Disse, sempre, que esquecer-me de Portugal seria esquecer-me do meu próprio sangue. O nosso génio pequenino sempre se habituou a não prezar os génios nacionais e até a expulsá-los, por falta de garantias. Aprendi, com o tempo, a separar os Saramago comunista, político, do Saramago escritor, humanista, realista, cru e nu. Tinha uma visão global do mundo que amedrontava o portuguesismo mediano. Tenho noção disso. Colocou cães a lamber rostos de pessoas, anjos a oferecem favores sexuais a humanos, raparigas bruxas que viam de estômago vazio, Reis a oferecerem elefantes e tirou Cristo num Evangelho novo. Escreveu Cadernos e alimentou um blogue com o mesmo nome. Viveu intensamente e foi polémico. Começou a escrever tarde e morreu na data que Alguém lhe destinou. Saramago, o meu escritor, foi-se, porque os génios também morrem e perecem. É normal. Ordinário. Tenho muito de Saramago na minha forma de escrever e nos olhos que vêm sem poder sobrehumano nenhum. Insisto, Saramago via a realidade de outra forma. Era diferente. Tinha uma postura diferente. É com uma profunda mágoa que vejo mais um vulto da nacionalidade partir.
Agora não valem museus, nem homenagens, nem estratagemas de propaganda política. O que foi feito foi feito. Felizmente, foi inserido no programa nacional escolar em vida. Viveu o que tinha para viver. Escreveu o que tinha que escrever.
Até sempre, Saramago. Até sempre! 

Luís Gonçalves Ferreira

quinta-feira, 17 de junho de 2010

sábado, 12 de junho de 2010





Que saudades de O.C.
Mas por que raio tive de ouvir esta música a caminho do café?!

Momento de nostalgia snif snif...


Xeque-mate?

Queria congelar tudo e ter uma mesa de Xadrez azul-cristal. Seria peça por peça, disposto por mim. Rainha sem Castelo. Rei solitariamente protegido. Mão imperativa, impiedosa. Mas, verdade seja dita, não me posso substituir a Deus. É ele a mão que põe e dispõe. Somos meras peças de Xadrez, dispostas. A estratégia é d'Ele. O corpo é nosso. A cor é nossa. Que linha fria esta que nos separa. Xadrez de metal gelado. São Bispos, Peões, Cavalos, Torres e milhões de xeque-mate. Nada definitivo. Temos a possibilidade de ser ressuscitados por uma entusiasmada investida de um peão qualquer. O pequeno torna-se grande. Fica Rainha. Dicotomia, esta. Cortina de ferro feita de fumo. É tudo volátil. Fraco e forte. São disposições arbitrárias ou jogadas meticulosamente arquitectadas? Há sempre lugar para o erro, certo estou. Certeza que é certeza pela existência infinita da aprendizagem. Sou mediano jogador de xadrez. Mestre de algumas peças. Principiante de outras. Sou fumo e fogo. Preto e branco. Xadrez.
O Xadrez, como a vida, é um jogo complexo.
Jogamos uma partida?

Luís Gonçalves Ferreira

sexta-feira, 11 de junho de 2010

But you've got the love I need to see me through

Aqui quem pode deprimir sou eu e mais ninguém.

Logo, se eu não o faço, sheer up!

Afinal, quem manda? :D *




Num ambiente de meia luz
numa boa companhia
saboreando um gin tónico
aquecidos pela imensa lareira
que apesar de nos consumir o oxigénio, é sempre bem-vinda
ao som de uma boa música
relaxando no enorme, mas acolhedor sofá branco
alheios a qualquer tipo de preocupações ou anseios...

Era mesmo isto que estava a precisar. Ainda me lembro de ser obrigada a ir com os meus pais para este tipo de serões. Agora, iria com todo o gosto. Bem, quem sai aos seus não degenera: a ciência tem destas coisas.
Só de me imaginar nesse cenário, parece que emagreci 10 kg: sinto-me mais leve.
Sim, assumo, a fase da adolescência já pode ser considerada passado. Algum dia teria de ser.
Não me sinto velha, nem aborrecida, nem mesmo melancólica. Simplesmente, recordo essa fase com um sorriso, porque foi bastante boa. A verdade é que nunca me irei esquecer das pessoas que a passaram comigo. Nem o mais insignificante momento será deixado no sótão. Cada fase tem o seu encanto e há que saber tirar partido disso. Viver não custa, o que custa é encontrar uma forma de saber viver.
Consigo imaginar-me com 80 anos e sem problemas de os ter. De certeza que saberei, se os ouvidos me permitirem, saborear uma boa música, ao mesmo tempo que aprecio a paisagem que me rodeia (suponho que será num ambiente de praia, se até lá não mudar de ideias).

Enquanto nos deixarem cá estar, "Façam o favor de serem felizes"

Estou a ficar velho! Conclusão:

Fast Car 
Tracy Chapman

A saudade corrói por dentro. Esfola por fora, porque diminui-te o sorriso. Tenho saudades de ser pequeno e achar que o ano 2000 foi ontem.
A passagem do tempo é produtiva, porque nos desenvolve. Mas... chateia. Eu lembro-me do ano 2000 e do medo pelo fim do mundo. Lembro-me do novo milénio ser novidade. Lembro-me de tudo e parece que foi ontem. Ontem, caros leitores. Estamos em 2010 e passaram 10 anos. Não sei, hoje, se foram suficientemente produtivos para ter este medo enorme de estar a ficar velho. Pensarão: Estás a ser ridículo, porque tens 20 anos! Tenho. Sim! Tenho, mas dói na mesma. Se tempo é sabedoria tempo significa experiência.
Tempo.
Tempo.
Ainda noutro dia comecei o curso e conheci gente importante. Ainda ontem entrei no segundo ano. Hoje estou quase a sair dele e a começar um novo. É chato quando a realidade nos cai em cima. 
Hoje tenho saudades. De mim. Essencialmente.
E só me apetece parar e chorar. Até que recolha energias para o próximo passo deste relógio pequeno e rápido em que me meteram mal nasci.
Ditadura do relógio.

Será mesmo necessário contarem a vida em dias, minutos e segundos?

Luís Gonçalves Ferreira

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ale-Ale-Alejandro

Alejandro
Lady GaGa



I know that we are young and I know that you may love me. But I just can't be with you like this anymore.


Minutos antes de sair as redes sociais entravam em conflito e o site oficial de Lady GaGa ficava fora do ar. O suru-ru-ru sobre o video era imenso. Inventaram-se datas e estreias, mas nada oficial. Do que se falava, há semanas, nos sites de música, era, claramente, de Alejandro, o terceiro single do álbum "The Fame Monster".
Com cenas fortes de intensidade homossexual e carga religiosa forte, Steven Klein (o realizador) e Lady GaGa produziram um templo à arte performativa e visual. Uma viúva frígida: é essa a imagem final que me fica no primeiro instante após o primeiro visionamento completo. GaGa explicou o teledisco como sendo um templo ao amor homossexual, em que ela interpreta uma mulher que tenta conquistar o coração dos homossexuais. É um amor monstruoso esse que a mata no final, percebe-se. 
Em três palavras: Magistral, Poderoso e Perfeito.
Lady GaGa devolve ao pop o fulgor criativo dos grandes acontecimentos dos anos 80 e 90. Cada passo é um acontecimento. E isso, leitores, já não me lembrava de ver há muito tempo num género que se achava estéril. 
Avé Lady GaGa. Avé.



Luís Gonçalves Ferreira

X,Y,Z

Antes de iniciar, julgo por bem avisar-vos, caros leitores, que não sairá daqui uma dissertação devidamente fundamentada, visto que neste momento sao sete da manhã e são escassas, para não dizer nulas as horas que dormi. Avizinha-se um dia bastante árduo. Avizinha-se muito estudo e espero que dele advenha frutos, de preferência maduros, moldados pela sabedoria.
Ora, desde o inicio mais básico da matemática, sempre me ensinaram que se deve identificar as variáveis. Podemos escolher a designação que quisermos, desde que devidamente identificadas. Neste caso, dei preferência a X,Y,Z.
Não. Não quero voltar aos meus tempos conturbados da matemática. Não sou masoquista até a esse ponto.
Escolhi X,Y,Z e não encontro fundamento para tal. Talvez ache mais ousado, audaz não atribuir nome real. Também não irei identificá-las: já foi o tempo da matemática!
X,Y,Z é o plano pautado pela mais imperfeita perfeição. Nada é perfeito e quando alguém lá chegar, metam-se debaixo das mesas e camas que 2012 está se a aproximar.
X nunca pensou que fosse encontrar no meio de cerca de 100 pessoas, Y e Z. Presume-se que Y e Z pensassem o mesmo. A mão invisivel fez o seu trabalho: não há dúvidas. A lei da atracção faz milagres e entre X, Y e Z definitivamente que se deu um.
Conheceram-se de uma forma atabalhoada, mas o seu destino estava mais que marcado. Aquela frase daquele café naquele primeiro dia foi o primeiro sinal de que X, Y e Z iriam formar um "plano". Tentaram dar-se a conhecer, se bem que timidamente: a química tem destas coisas. Algo impossível de ser entendido. De facto, é impossível evitar o inevitável.
Depois de tantas somas apressadas, de subtracções sofridas, de divisões estúpidas, eis que surge a multiplicação tão desejada, contudo, pouco esperada.
Pensa-se irroneamente que os verdadeiros amigos e os mais duradouros se conhecem aquando da queda dos dentes de leite. Não se quer ferir possíveis susceptibilidades, mas X comprovou que não e nada melhor que a experiência sensível para corroborar.
Em tudo na vida, por mais difícil que se nos assemelhe, há sempre algo positivo a retirar do negativo, Não é por acaso que na matemática menos com menos dá mais. É fácil falar na teoria, todos sabemos. Complicado é transportá-la para a prática.
X comprovou naquele ano que o que parece garantido, é o mais volátil. Aprendeu que intensidade é sinónimo de efemeridade. X não pode dizer que não sente saudades. Saudade sempre marcou os nossos antepassados. Não admira, pois, que tal termo só exista em português. "Chorou" a sua ausência, agora "chora" por ainda a sentir. Não exteoriza as lágrimas: o orgulho não permite.
Certas palavras ficam marcadas, como pegadas feitas no cimento fresco, de tal modo que o termo "acreditar" surge como algo ridiculo.
Y e Z apareceram no momento certo. Tentaram, ainda que sem se aperceberem, apagar essas palavras.
Perante este mare magnum de dúvidas e receios que assolaram X, Y e Z contribuiram para que a palavra "acreditar" não perdesse o significado que, afinal, consta no dicionário da Língua Portuguesa.
Pretende-se, portanto, que X,Y,Z se unam, numa simbiose jamais outrora alcançada. Que enlacem as mãos e não tenham receios de as voltar a unir, caso elas se desenlacem por motivos alheios à vontade.
X,Y,Z sentem que se têm. Os seus pontos foram unidos, ainda que de uma forma invisivel. Mas, o que realmente importa é sentir. Os nossos olhos são facilmente enganados. Pelos vistos, discordo daquela frase tão repetida "Longe da vista, longe do coração".
X quer acreditar que tudo isto não resulta de uma pura construção abstracta da sua mente. Afinal, o que vai ser da Humanidade quando a palavra "acreditar" perder sentido?

Caminhemos, mas lado a lado!

P.S: é no que dá uma noite passada em branco...

domingo, 6 de junho de 2010

Espartilhos, Corpetes e Crinolinas

Durante a minha vida vivi com corpetes justos, espartilhos apertados e crinolinas pesadas. Oram mudavam os formatos, ora as cores, ora as cordas: finas ou mais espessas; largas ou mais justas. Incomodativas, sempre foram, essas fartas locomotivas. É a existência numa asfixia de moldes, frutos de tempo e espaços próprios. As pessoas correm, a olhos vistos, em todas estas justuras que sufocam a beleza de se viver livremente. Não são paredes de tijolos, mas feituras humanas, medíocres, das cabeças, que viram práticas-produto. Luís XIV usava saltos altos. Confortáveis não eram por certo. Certo será que as crinolinas, os corpetes e os espartilhos, das damas da sua corte, também não o eram. 
Todos vivem (e não sou só eu) com adereços sociais inúteis, desconfortáveis, que não são de cimento, nem de barro nem de pano nem de madeira nem de arcos nem de varetas. Nem de nada que se possa descrever em linhas de homens.
As coisas que espartilham, encorpetam ou crinam a vida não são as óbvias coisas que o vosso e o meu imaginário arquitectam para esta valsa de adereços de moda. Falo, aqui, de moldes, modelos, tigeladas de barro que nos metem, desde pequenos, pelo cérebro dentro. São preconceitos, arquétipos, brocardos. São moldes. E mais moldes. E mais cimento e barro.
"Olha que ficas como o teu tio." 
"A tua irmã é mais inteligente que tu". 
"Se não fizeres isto arrependeste". 
"És um mau filho". 
"És má pessoa". 
"És mau namorado". 
"És inferior à pessoa X, mas superior a Y". 
"És". 
"És".
"X é e tu não és".
É a sobranceria do ser, pelos outros. Somos comandos, postas fixas de carne, em desejo de prazer e de felicidade, meramente sujeitas às prestações dos outros. São moldes. Como as tigelas que nos dão o caurdo da ceia. Feitas e refeitas vezes sem conta, na mesma esquemática ignorância de não se pensar que se empobrece o outro assim. Modelos. Chuvas de comparações. Premissas. Prestações. E modelos. Sempre me senti emparedado nos outros, mesmo entre pessoas que nem conheci. E isso desagrada-me. Sempre me destabilizou, mas não tinha voz para refilar nem dizer nada. Aceitei. Fui chamado de "burro". Cresci. E repulso comparações.
Repulsa. Nojo. É isso.
E cresci. E vejo o Homem como um ser, primariamente isolado, sem roupa, nem apetrecho nem ancas nem vestidos nem crinolinas nem espartilhos. Topo-lhe humanidade. Dou-lhe respeito. Não o comparo. É um ser. Precisa de crescer. É particular. Nada de paredes. Nem muros. Nem bem nem mal. Nem ocidente nem oriente. Cansei-me de formas. Fadiga egoísta. Logo depois, enformo (os outros) num bolo, fruto da observação. Não comparo nem subestimo. Conheço.
Afinal de contas, Deus criou o homem e a mulher nus e eles tocaram-se, corporalmente, e tiveram prazer. Viram o outro. Não existiam espartilhos nem corpetes nem crinolinas antes de serem verdadeiramente conhecedores de si. Era correcto o silogismo se eles não fossem logo emparedados entre as pernas do Deus do Bem e as coxas do Deus do Mal. Era lógico o pensamento até serem vestidos, de moldes, que eram folhas de preconceito. 
Modelos. 
E mais modelos. 
Paredes e muros destrutíveis.
Eu próprio sujeito-me à sujeição dos outros aos meus moldes.
Por respeito à minha história, não me comparem. Estimem o que sou e não o que querem que seja. Mimem o que está cá, se for isso que o coração pede. Deixem-me ser, livremente, sem Espartilhos, Corpetes e Crinolinas.


Sem mais,
Luís Gonçalves Ferreira