quarta-feira, 30 de março de 2011

Campos cardos. Campos orquídeos.

Hoje ficou dia até mais tarde, porque anoiteceu mais tarde. Constatação vã. A dificuldade de convivência entre a treva e a claridade está resolvida pelo relógio de Deus: ora dá palco a um, ora retira-o a outro, por estações. Agora o dia começa a vencer a treva. O bem começa a destruir o mal: como na vida. As coisas acontecem em partes, como por estações. Existem pessoas que são países tropicais, outros existem na nacionalidade nórdica de si. Acontecem Açores dentro de mim: sinto, entre os dedos, as quatro estações do ano. A oscilação bipolar entre a dúvida de estar no caminho certo e a certeza concreta que a felicidade se constrói do presente. A sobrevivência do passado sobre o futuro é errada. O nosso relógio não pode parar, porque o sol caminhará para se deixar vencer pela lua. A terra, inclinada, está doentemente no caminho certo: o do quotidiano, da pendulação entre os pólos. Quero tomar o rumo do Verão e deixar-me ir no teu baloiço. Vamos viver a Primavera e preparar os corações para o esplendor da bondade. Páro e penso: serei merecedor deste relógio insano de tão rápido que roda? Não encontro resposta senão nas candeias que os outros trazem para o meu caminho. Candeias que são olhos. Olhos que espelham almas. 
Vou ler por dentro, como o poeta de prosa destinou a alguém na sua vida literária. Não o ler mágico, bruxo, medieval, mas a leitura prática que todos deveriam fazer na vida. A convivência subentende entendimento, aceitação, respeito, amor. A Sete Sóis fazia-o, no calor do dia que se dominara pela noite. O sete não foi escolhido ao acaso. Os sóis também não. Juntos dão o complemento à lua: a perfeição circular daquilo que vemos. Juntos (a lua e o sol), como o sete, dão ao parto o Alfa e Ómega, o princípio e o fim, o Verão e o Inverno. Juntos - em mim - dão origem à inconstância que é não perceber o tempo, mas conseguir integrá-lo no coração e no cérebro, que são a lua e o sol de mim. Não existe dia sem noite. Não existe verão sem inverno. E mesmo quem não os vive sonha tê-lo na pele. Quem os viveu espera, fatidicamente, pela mudança seguinte.
Vou-te ler por dentro, prometo. É a maior promessa os meus sentidos fazem a mim mesmo, aos meus sentimentos. Vou seguir de olhos fechados, por entre o calor da tua pele... Pelo dia como pela noite. Por entre os campos de ti, mesmo que cardos, mesmo que orquídeos. 

Luís Gonçalves Ferreira

segunda-feira, 28 de março de 2011

No baloiço

Rodeado de medo, chegaste, de mansinho, como quem acolhe o tempo na palma das mãos. Sopraste-me rosas, entre ventos... Tudo me fazia lembrar os tempos de menino em que vivia tudo entre as palmilhas dos teus cabelos. Eram os passos da alma, de graça, que me chegavam de tempos a tempos. Ou melhor, através de gente. Reacções físicas e metafísicas iguais. Pressões iguais. Relógios iguais. Era precisamente o tempo que me igualava tudo a ti, pesadamente. Era precisamente o amor pelo tempo que não te queria deixar ir, neste alvores pesados da memória. Não, não é isso a que me quero dedicar neste momento. Não, não é isto que parece arrependimento. Não é a isto - que sabe a um qualquer sentimento negativo, vagamente instalado nas linhas que me preenchem o espaço... o tempo. Partiste, de mansinho, outra vez, para amanhã haver um regresso. Nenhum será tão cândido, puro e autêntico como os destinos que cruzamos, lá longe, na aranha do tempo. Nos sonhos, que me acalentam a noite e as pontas dos dedos, vais regressar como uma desilusão. 

Luís Gonçalves Ferreira

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um texto grande e poético.

Ridículo. Decidi apagar tudo o que havia escrito.
Silêncio. Talvez esteja mais branco que nunca.

Luís Gonçalves Ferreira

quinta-feira, 10 de março de 2011

Quotidiano

Tal como dizia John Lennon, "enquanto fazemos planos, a vida corre." Por isso, que se lixe o que nos rodeia e Carpe Diem!

Sem mais,

sexta-feira, 4 de março de 2011

De volta à WonderLAND



Londres...que há para dizer? Talvez a cidade que me faria trocar, por uns tempos, este nosso maravilhoso sol.
A segunda visita trouxe-me uma perspectiva completamente diferente. Uma cidade ainda mais movimentada, diria. Apesar de cinzenta, dá adrenalina. Apesar de poluída, dá vontade de sair da cama. Apesar de fria, dá vontade de percorrer o Tamisa.


Não lido bem com o frio e para ser sincera, estes últimos dias foram os mais frios da minha vida. Já não sentia os dedos nem o nariz, mas continuava com pica de deambular por aqueles ruas.


Acho imensa piada à forma como os ingleses vivem o seu quotidiano. Tudo passa despercebido. Os "mexericos" não existem. Apesar de estarem sempre a correr, são relaxados qb. Pode-se vestir o que nos der na telha que ninguém irá comentar. As meias rotas ou os óculos mais "freak" não serão motivo de troça. Estão-se nas tintas e eu simplestente adoro. Há liberdade para se ser o que se quer e não há meias medidas. Gosto. Chamo a isto liberdade de expressão. Que se lixe o que os outros pensam. Sim, temos que saber viver em sociedade, mas sabe bem termos o nosso mundo sem "beatas" ao nosso redor. Trocaria Portugal só por este gozo que Londres me dá: LIBERDADE.


Contudo, sei ( e se sei) que Portugal é e será para sempre a minha casa, onde me irei sentir de pijama e não de fato.


Aterrar no Porto, ver o sol de novo, falar português, palmilhar o nosso terreno fez-me feliz e sentir saudades de voltar a acordar no meu quarto (apesar de já ter sabido que o gasóleo aumentou outra vez). Não vale a pena: sou bairrista ao ponto de encontrar os seus defeitos, mas reduzi-los e conseguir fazê-los parecer um mal menor.Não é a isto que se chama paixão? Eu serei uma eterna apaixonada pelo nosso rectângulo. Chegar ao berço concedeu-me aquela sensação única de conforto. Abraça-me sempre da mesma forma, porque sabe que estarei sempre por cá. Pode não ser presença física, mas emocional sempre. Isto posso garantir. Sou portuguesa, sou Vimaranense e isto faz me transbordar de orgulho! Faz-nos falta limar umas certas arestas...eu acredito que podemos encontrar as respostas necessárias.


P.S: em relação à foto, quem sabe se não estou ao lado do próximo Noel Gallagher. Foi mais ao menos assim em pleno metro londrino: