A manhã está a ser violenta nos arredores de Maputo. A polícia foi alvo de apedrejamentos e disparou para dispersar a população que foi para a rua protestar contra o aumento do custo de vida. Há pneus a arder em alguns bairros e muitas entradas na capital moçambicana estão bloqueadas. Milhares de pessoas estão nas ruas onde não há transportes a circular. Não havia nenhuma greve planeada, mas circulou através de telemóveis e na internet o apelo a um protesto contra o agravamento dos preços agendados para hoje. A água e a luz sofreram um aumento. O preço do pão também deverá custar mais esta semana. No centro de Maputo o movimento é pouco e muitos dos estabelecimentos estão fechados.
2010-09-01
Nunca estive em Moçambique pelos meus próprios pés, porém sempre foi o palco imaginário das minhas fantasias da tenra idade. Berço da minha família materna, cresci a ouvir histórias das suas gentes, das suas paisagens de cortar a respiração, da fauna inóspita, do ar quente misturado com a chuva tropical. Sentia-lhe o cheiro doce e revoltado, sabia-lhe o cravo, a canela e o caril e ouvia ao longe os baques da Marrabenta. Construí um imaginário de um sítio aprazível e inigualável, o que se tornou num sonho em lá voltar. Voltar, sim, pois estive lá durante vinte quentes e felizes anos, nem que fosse a amadurecer dentro da barriga da minha mãe. África sempre foi a minha Utopia.
Tenho este país como uma preciosidade também minha, e dói-me vê-lo como acabei de o fazer por estas imagens. O jornalista referiu-se a Maputo como sendo uma cidade praticamente abandonada - tocou-me indignadamente. Acredito com fervor que a população que lá habita é totalmente pacífica, portanto o que os leva a reagir desta forma é certamente uma tremenda injustiça. Cuidaram de nós como irmãos. São genuinamente bons. Por impedimentos inultrapassáveis, não pude lá ir realizar o voluntariado que pretendia. Para o ano vou tentá-lo novamente. Paulo Coelho já profetizava: "Escuta o teu coração, ele conhece todas as coisas. Pois onde ele estiver, é onde estará o teu tesouro". Há chamamentos inadiáveis!
Não deixem que vos pisem, nunca; possuem uma terra fortíssima. Um bocado à boa moda do avô da minha amiga Diana: "Se não nos orgulhamos do que somos, quem se orgulhará?" Eu orgulho-me. Um até já!
3 comentários:
Desfrutam de uma terra, que não obstante não conhecer, deve ser absolutamente maravilhosa e envolvente.
Cresci também a ouvir histórias sobre desse continente...dessas terras para lá do equador!
Do famoso e ímpar cheiro a África, que segundo muitos…se parece com o odor de terra acabada de ser “chovida”!
Mas também da festa e ao mesmo tempo, da tragédia que é ser africano! Do colorido das cores das mulheres, contratastando com o amarelo da secura africana! Ser africano não é ser negro. A provar? Mia Couto, que te transcrevo:
Poema Mestiço
escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico
sangro norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo
hei-de
começar mais tarde
por ora
sou a pegada
do passo por acontecer...
Mia Couto
Sou daqueles que acredito que de África saímos…e a África voltaremos =)
Ai assim sim. Gosto de ver.
Epa, se precisares de companhia p essa aventura, conta comigo.
Ando com vontade de espairecer durante um bom tempo fora da minha "casa".
Bora la...
Maria das Dores
Maria das Dores, tu em África? Via-te mais rápido no Estádio da Luz :)
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