quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Revolta em Maputo



A manhã está a ser violenta nos arredores de Maputo. A polícia foi alvo de apedrejamentos e disparou para dispersar a população que foi para a rua protestar contra o aumento do custo de vida. Há pneus a arder em alguns bairros e muitas entradas na capital moçambicana estão bloqueadas. Milhares de pessoas estão nas ruas onde não há transportes a circular. Não havia nenhuma greve planeada, mas circulou através de telemóveis e na internet o apelo a um protesto contra o agravamento dos preços agendados para hoje. A água e a luz sofreram um aumento. O preço do pão também deverá custar mais esta semana. No centro de Maputo o movimento é pouco e muitos dos estabelecimentos estão fechados.
2010-09-01

Nunca estive em Moçambique pelos meus próprios pés, porém sempre foi o palco imaginário das minhas fantasias da tenra idade. Berço da minha família materna, cresci a ouvir histórias das suas gentes, das suas paisagens de cortar a respiração, da fauna inóspita, do ar quente misturado com a chuva tropical. Sentia-lhe o cheiro doce e revoltado, sabia-lhe o cravo, a canela e o caril e ouvia ao longe os baques da Marrabenta. Construí um imaginário de um sítio aprazível e inigualável, o que se tornou num sonho em lá voltar. Voltar, sim, pois estive lá durante vinte quentes e felizes anos, nem que fosse a amadurecer dentro da barriga da minha mãe. África sempre foi a minha Utopia.

Tenho este país como uma preciosidade também minha, e dói-me vê-lo como acabei de o fazer por estas imagens. O jornalista referiu-se a Maputo como sendo uma cidade praticamente abandonada - tocou-me indignadamente. Acredito com fervor que a população que lá habita é totalmente pacífica, portanto o que os leva a reagir desta forma é certamente uma tremenda injustiça. Cuidaram de nós como irmãos. São genuinamente bons. Por impedimentos inultrapassáveis, não pude lá ir realizar o voluntariado que pretendia. Para o ano vou tentá-lo novamente. Paulo Coelho já profetizava: "Escuta o teu coração, ele conhece todas as coisas. Pois onde ele estiver, é onde estará o teu tesouro". Há chamamentos inadiáveis!

Não deixem que vos pisem, nunca; possuem uma terra fortíssima. Um bocado à boa moda do avô da minha amiga Diana: "Se não nos orgulhamos do que somos, quem se orgulhará?" Eu orgulho-me. Um até já!

3 comentários:

Anónimo disse...

Desfrutam de uma terra, que não obstante não conhecer, deve ser absolutamente maravilhosa e envolvente.

Cresci também a ouvir histórias sobre desse continente...dessas terras para lá do equador!

Do famoso e ímpar cheiro a África, que segundo muitos…se parece com o odor de terra acabada de ser “chovida”!

Mas também da festa e ao mesmo tempo, da tragédia que é ser africano! Do colorido das cores das mulheres, contratastando com o amarelo da secura africana! Ser africano não é ser negro. A provar? Mia Couto, que te transcrevo:



Poema Mestiço

escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

sangro norte
em coração do sul

na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

hei-de
começar mais tarde

por ora
sou a pegada
do passo por acontecer...

Mia Couto



Sou daqueles que acredito que de África saímos…e a África voltaremos =)

Anónimo disse...

Ai assim sim. Gosto de ver.
Epa, se precisares de companhia p essa aventura, conta comigo.
Ando com vontade de espairecer durante um bom tempo fora da minha "casa".
Bora la...
Maria das Dores

Anónimo disse...

Maria das Dores, tu em África? Via-te mais rápido no Estádio da Luz :)