Tenho vindo a considerar seriamente que deveríamos ter tido a sensata possibilidade de nascer com um botão de “slow motion”. Sinceramente, nem tenho vindo: posso afirmar com toda a certeza que nunca tive pressa de crescer. Agora, deparo-me com uma séria melancolia pelos tempos que já lá vão.
Começo pela saudade: tenho-a de brincar furiosamente; de esconder os brinquedos debaixo do tapete quando mos mandavam arrumar (e atingir uma felicidade tremenda por ter sido mais eficiente que a empregada); de ter medo dos monstros debaixo da cama; de acusar a fada dos dentes de roubo e injustiça; de poder descarregar adrenalina licitamente nos meus primos; de correr como uma desvairada, cair e esfolar os joelhos como se não fosse nada; de querer trepar às árvores mais alto que os outros e ter um tombo e respectivo galo em proporção (as quedas de hoje doem mais por dentro); de me empanturrar de iguarias sem ter medo dos quilos a mais; e de pintar as paredes da sala de estar com autênticas obras-primas.
Sinto tanta falta: de acordar a casa toda às seis da manhã para ver os desenhos animados; de não ter medo sequer do infinito, excepto do escuro; de só querer adormecer noite após noite no ombro do meu pai; de ser a menina dos olhos do meu avô; de fazer a sesta em cima da barriga dele; das nossas tropelias de melhores companheiros; de conseguir permanecer a noite toda acordada na tagarelice (não é que já não fale muito); do fruto proibido ser ainda mais apetecido do que agora; do coelho da Páscoa; de fugir a sete pés dos rapazes que gostava (isso também se mantém igual); e de ter chorado dias a fio com a desilusão pelo Pai Natal não existir.
Tão cedo – só se não quiser – não volto a: ser sereia na banheira; ter o cabelo mais longo de todos graças às saias-peruca da minha mãe; maquilhar-me – qual Van Gogh – com os seus batons por estrear; montar tendas aconchegantes na sala; ser piloto de rally dos carrinhos das compras; imaginar que o Mundo é todo meu; fazer do sofá palco e palácio – cenário para as minhas cantorias –; esmagar carritos de corda para simular acidentes (agora passei para a parte prática e mais perigosa) –; desmontar tudo o que me intrigava para dirimir os meus porquês de esfinge; e a treinar beijinhos na boca nos coitados dos peluches.
Apetece-me regressar ao ponto de partida quando: não tinha segredos; resolvia mistérios de brincadeiras que me roubavam completamente o sono; podia ser Sininho, Bela Adormecida e Cinderela; preferia o príncipe encantado ao lobo mau; chorava buliçosamente baba e ranho por crucialidades dos crescidos; lia um livro por debaixo da colcha com uma lanterna por já passar da hora do Vitinho; tinha a coroa e o ceptro do reino do “Não fui eu”; e não me obrigavam os meus odiados compromissos.
Nestes anos de faz-de-conta, também fui aprendendo que mentir para não magoar não era mentir de todo, e, inclusive, correr contra o tempo também não é pecado. A necessidade de adrenalina dos alvores da adolescência eterna e tentadamente mantida coabitam em contínua permanência comigo. É mutável, contudo cresce como uma erva daninha mal aparada, conforme à vontade de voltar a ser inconsciente e ter a consciência disso.
Não me venham com as sátiras da beleza de todas as idades. Não me acusem de padecer do síndrome do menino dos collants verdes. É esta vontade, é este o sonho, é esta a mágoa que tenho com um Cronos que dos rebentos se alimenta, que preservo na minha caixa de Pandora. É minha, como disse e repito, e guardo nela o que quiser. E bato o pé, e refilo até rebentar, e estrabujo com os braços, e rabujo com os dentes, como a menina mimada que tanto quis ser.
Começo pela saudade: tenho-a de brincar furiosamente; de esconder os brinquedos debaixo do tapete quando mos mandavam arrumar (e atingir uma felicidade tremenda por ter sido mais eficiente que a empregada); de ter medo dos monstros debaixo da cama; de acusar a fada dos dentes de roubo e injustiça; de poder descarregar adrenalina licitamente nos meus primos; de correr como uma desvairada, cair e esfolar os joelhos como se não fosse nada; de querer trepar às árvores mais alto que os outros e ter um tombo e respectivo galo em proporção (as quedas de hoje doem mais por dentro); de me empanturrar de iguarias sem ter medo dos quilos a mais; e de pintar as paredes da sala de estar com autênticas obras-primas.
Sinto tanta falta: de acordar a casa toda às seis da manhã para ver os desenhos animados; de não ter medo sequer do infinito, excepto do escuro; de só querer adormecer noite após noite no ombro do meu pai; de ser a menina dos olhos do meu avô; de fazer a sesta em cima da barriga dele; das nossas tropelias de melhores companheiros; de conseguir permanecer a noite toda acordada na tagarelice (não é que já não fale muito); do fruto proibido ser ainda mais apetecido do que agora; do coelho da Páscoa; de fugir a sete pés dos rapazes que gostava (isso também se mantém igual); e de ter chorado dias a fio com a desilusão pelo Pai Natal não existir.
Tão cedo – só se não quiser – não volto a: ser sereia na banheira; ter o cabelo mais longo de todos graças às saias-peruca da minha mãe; maquilhar-me – qual Van Gogh – com os seus batons por estrear; montar tendas aconchegantes na sala; ser piloto de rally dos carrinhos das compras; imaginar que o Mundo é todo meu; fazer do sofá palco e palácio – cenário para as minhas cantorias –; esmagar carritos de corda para simular acidentes (agora passei para a parte prática e mais perigosa) –; desmontar tudo o que me intrigava para dirimir os meus porquês de esfinge; e a treinar beijinhos na boca nos coitados dos peluches.
Apetece-me regressar ao ponto de partida quando: não tinha segredos; resolvia mistérios de brincadeiras que me roubavam completamente o sono; podia ser Sininho, Bela Adormecida e Cinderela; preferia o príncipe encantado ao lobo mau; chorava buliçosamente baba e ranho por crucialidades dos crescidos; lia um livro por debaixo da colcha com uma lanterna por já passar da hora do Vitinho; tinha a coroa e o ceptro do reino do “Não fui eu”; e não me obrigavam os meus odiados compromissos.
Nestes anos de faz-de-conta, também fui aprendendo que mentir para não magoar não era mentir de todo, e, inclusive, correr contra o tempo também não é pecado. A necessidade de adrenalina dos alvores da adolescência eterna e tentadamente mantida coabitam em contínua permanência comigo. É mutável, contudo cresce como uma erva daninha mal aparada, conforme à vontade de voltar a ser inconsciente e ter a consciência disso.
Não me venham com as sátiras da beleza de todas as idades. Não me acusem de padecer do síndrome do menino dos collants verdes. É esta vontade, é este o sonho, é esta a mágoa que tenho com um Cronos que dos rebentos se alimenta, que preservo na minha caixa de Pandora. É minha, como disse e repito, e guardo nela o que quiser. E bato o pé, e refilo até rebentar, e estrabujo com os braços, e rabujo com os dentes, como a menina mimada que tanto quis ser.
3 comentários:
E vais continuar assim: A Nádia. Com todas essas recordações e seu peso actual sobre ti, incluindo a saudade. Digo-te: Ainda tens muito dessa meninice em ti. Descansa. Ainda não perdeste a tua identidade e os meus 20 anos ainda não me chegaram ao cérebro.
Beijo!
UIII onde isso já lá vai!!!Como eu te compreendo.
Ao contrário de ti, sempre tive pressa de crescer.
Agora arrependo-me! Dar tempo ao tempo, isso sim!
Apesar de todos nós termos uma faceta de criança (espero mante-la!), a consciência impera nas nossas decisões.
"OH TEMPO VOLTA PARA TRÁS..."
kisses
p.s: nós somos crinças, basta tira uns 10 anos e uns centimetros e uns kilinhos (é só isso que falta) heheh
O teu nome está mal boneca. Devia antes ser "Nádia Tapete Voador" ;)
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