terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fatalidade de se ser

Essa coisa de se afirmar, peremptoriamente, que X é superior a Y tem que se lhe diga. Se a questão da superioridade não for bem colocada e analisada, incorrem-se riscos parecidos com o arrojo do anti-semitismo doutros tempos, onde a realidade se ser eminentemente superior advém de uma consciencialização cega, oportuna, paulatina, que, de forma mediata, vai-se apoderando da percepção dos endrominados. Não queiramos cair na problemática dos julgamentos de Nuremberga, onde o facto de algo ser normativamente legítimo levou as pessoas a cometerem actos que vão contra a sua própria natureza. A confiança cega, surda e muda nalguma coisa estreita-nos os campos de visão, veda-nos a razão e amordaça os nossos sentidos a convenções e estereótipos alheios a nós mesmos. A certa altura, tomámos como nosso um pensamento alheio, que nos foi fixado, mesmo sem que o tenhamos querido. Nesta componente sociológica, que justifica a aparente injusticabilidade de alguns comportamentos humanos, a razão da análise empírica empobrece-se e até pode ser menosprezada.

Mas, não deveria o ser humano, como livre e independente, perceber que o seu comportamento é censurável na medida em que vai contra a sua génese? Em que posição ficam as suas crenças e valores quando uma instituição lhe formata, sem pedir licença, e de uma forma despótica, o seu próprio pensamento? E a experimentação? Devemos deixá-la perdida nas nossas bibliotecas monótonas, cheias do mesmo? Teorias monocéfalas são como comunistas cheios de Marx e Engels e capitalistas repletos de Locke e Smith, onde os espaços são vazios de contraditório e ocos de respeito pelos mais ténues vínculos entre teorias mentalmente concepcionadas como antagónicas e rivais.

Luís Gonçalves Ferreira

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Luís tais reflexões deixam-me sem reacção.
Sabe o que é querer falar ou emitir um parecer e simplesmente não conseguir?
A sensação de impotência é, realmente, muito má. Mas, há um culpado (sempre há) e tu deves saber quem é, não?

O ser humano tem as suas manhas, as suas formas de se proteger que no olhar de outro ente da mesma espécie parecem medonhas. A verdade é que é muito complicado descrever, analisar os comportamentos dos nossos compadres, até mesmo de nós.

Quantas vezes dei por mim a pensar o que raio estava a fazer ou a falar que ia totalmente contra os meus princípios ou a minha maneira de ser. Acho que a que dia que passa conhecemos uma nossa faceta que desconheciamos completamente. É essa a piada. É testarmo-nos através de experiências.
Somos um bicho complicado. Desconhecemos as nossas razões.

P.S: já eram horinhas de zzzzzz, por isso, não analises em demasia o meu discurso.

beijinhos
dra D.Mac