terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fechou a porta. Cabeça cheia. Mãos vazias. Coração dividido. A incompreensão prevalece. Peremptoriamente já entranhou um "não" depois de tantas voltas. Tenta fugir para outros braços, dar a mão a alguém que a estique primeiro.

A esperança assemelha-se ao sol de fim de tarde de inverno. As árvores encontram-se despidas.

Ainda não encontrou as folhas que tanto quis apanhar, conhecer, guardar. Talvez por insegurança, receio que elas voassem das suas mãos, deixou-se ficar encostada agarrando simplemente num copo. Talvez conseguisse guardar qualquer gota que elas deixassem escapar com o vento. Garantia, desta forma, a impossibilidade de deixar escapar algo que lhe pertenceu, nem que fosse por efémeros momentos. No fundo, não perdeu, nem ganhou. Ficou naquele estúpido empate que ninguém percebe quais as possibilidades de vitória ou derrota. O empate avizinhou-se como seguro. Defendeu-se com aquele copo. Não conseguiu reagir aos ataques, muito menos atacar.


A porta abriu-se, despoletando as primeiras folhas naquela árvore do canto esquerdo do fundo. Timidamente, aproximaram-se. Tocou-lhe na mão direita, fazendo-a estremecer. Apesar de alguma incerteza, surpresa, ela largou o copo. Já não quis saber das meras gotas que poderiam ser soltas. Inconscientemente e deixando a racionalidade de parte, reagiu com o seu instinto mais animalesco possível. Cedeu sem saber porquê. Atreve-se a pensar que existe qualquer ligação inexplicável. Ficaram sozinhos no meio daquela multidão. Olharam-se, observaram-se, tentaram-se escutar, mas foi impossível. A voz fica trémula, as palavras deixam de fazer qualquer sentido. Apesar de ele achar o contrário, ela sentiu o calor do beijo que percorreu o membro direito superior. Tenta perdurar essa sensação até agora. Feito impossível.

Acredita que se conseguirem passar o Cabo das Tormentas, poderão ajustar-se como outros já conseguiram.

Indaga-se desta possibilidade de ter saudades de algo que ainda não vivenciou. Rege-se somente pela luz que se cruza em ambos os olhares. Olhares esses que penetram na essência oposta.

A invisível linha que os une ainda não foi identificada como algo verosímil. Nem chegou a ser encurtada por mais do que breves segundos. A verdade, e apesar de doer, é que por mais que se tente prolongar esses estupendos momentos, não passam de memórias. Memórias pertencem às lembranças que estão guardadas no sótão.

Apanhou o beijo que ele mandou. Guardou-o, apesar de ele achar que foi reciclado.

Preferiu esconder-se esta noite, talvez por não se sentir munida das balas suficientes para combater contra a corrente de vento que cada vez se encontra mais fortalecida.

Prometeu que no próximo ataque, iria reagir. Planeou, carregou a arma. Mas, percebeu que esta situação não se resolvia com balas munidas de ironia e sarcamo de forma a que surgisse um ataque refugiado de uma defesa bastante visível. Apercebeu-se da pior forma que o jogo arquitectado na sua cabeça acabou. Acima de tudo, realizou que nunca houve jogo. Houve quem percebesse isso mais cedo, guardando as folhas que ela deixara escapar.

O copo, esse sim, está no processo de transformação. A árvore do canto esquerdo do fundo desapareceu.

São meramente dois estranhos que, por vezes, se cruzam.


A porta sumiu. Servia de passagem do 8 para o 80. Agora não faz sentido a sua existência.

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