quarta-feira, 6 de julho de 2011

Memórias em nota de Canto

Roubaram-te a História e fizeram-lhe um filho. Seu nome são Memórias e já é velho do teu passado. A partir daí foram-se aos pares, em cordéis, e nunca mais regressaram para curar feridas. Memórias sobrevivem e bloqueiam os teus pensamentos livres, os (re)confortos úteis e os prazeres fáceis. Não consegues viver livremente, porque existe a linha do contra-peso que te puxa para trás. Por vir ao assunto, pensaram-lhe em chamar-lhe de Peso, tão-só. Era curto de mais e eu sempre amei eufemismos. Pensaram em mim, no templo da escolha do nome, logo após o parto. Não deram como tido em mais nada, porque perdeu-se a escolha quando te entregas sem correntes. Batutas, metáforas e ferros. Barulho. Não se sabe de nada. Memórias gravadas e Peso aos amigos. A seguir somam-se tempos e ventos e tão-somente batalhas. A maior guerra está ganha (ou perdida) e Memórias são a prova disso. "Pessoas não são provas", pensarás tu, nobre plebeu disfarçado de pobre. Pobreza que não sofres, mas ostentas na riqueza dos teus trejeitos, dos valores e dos pensamentos que fizeram deste último o maior tesouro das tuas teorias. Escolhido para pai do Peso, ou de Memórias, foi assim tomado público, feito de todos e dado como desaparecido, sem sequer ter tido direito a uma profecia em quadrado numa qualquer manhã de nevoeiro. Perdeu-se a Glória, o Triunfo e todo e qualquer pleonasmo que iria tornar-te redondo e cansado. Memórias foi Rei. Rei sem trono. Rei sem coroa. Quinto Império, quis-lhe dar Pessoa. Elefante, ofereceu-lhe Saramago. Plebeu, instituí de repente. Não importa, porque são memórias que são passado. Meros traços intelectuais. E isto sou eu: produto de mim e âmago da subtileza de pensar quarenta e cinco graus a norte do Cabo Bojador, para lá da Ilha dos Amores. Não sei onde isso fica no gêpê-ese. Fecho os olhos e confio no mapa da alma, astrolábio da recordação, fundamento bussolar dos tempos: e espero o destilar vermelho das oportunidades... das portas. Portões celestes, rosas rupestres ou sereias despidas pela calma séria dos mares.
Traço. Memórias é o seu nome. E é só isso que nos resta perceber.

Luís Gonçalves Ferreira

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