A ideia de escrever um livro nunca me foi completamente distante, confesso-vos. Sempre sonhei com isso, até para completar as máximas da vida: escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho.
A terceira máxima poderá ser a última, por certo. Sempre cresci com ideias fortes de família, sei que tenho competência para educar alguém, mas é uma variável que merece o máximo de responsabilidade.
Plantar uma árvore é a mais fácil das máximas de vida, por certo. Basta sair de casa com essa convicção. Se chove, com ou sem pá, aqui ou ali, são meras variáveis da convicção. Estão para além dela, mas influenciam a gravação do momento no teu livro da vida.
Escrever um livro é a máxima angular. Não sei se tenho criatividade suficiente para o fazer. Não sei se tenho genialidade suficiente para isso, mas dizem-me que sim. Verborreia dos outros? Gentileza alheia? A confiança em (certas) bocas indicam-me o contrário. Fomentei este blogue durante mais de dois anos com a vontade de publicitar a minha criatividade, talvez por falta de vivência de outras coisas... talvez por carência de reconhecimento. Já escrevi contra o amor, sobre a ressaca do amor, e depositei textos auto e hetero-críticos, da política à educação, passando pelo simples olhar social, claramente de inspiração Saramaguiana. Sempre vos disse das minhas inspirações, mas sempre questionaram, na família, se era mesmo eu quem aqui escreve ou é tudo fruto de uma cópia peculiar e cirúrgica de tudo o que vejo. A resposta é "não". É tudo meu. É tudo de dentro de mim, e depois vosso, de quem lê. Pessoa surge aqui, nesta última frase. Como o nominalismo vos surgirá depois ou a teologia da verdade. Este blogue são páginas avulsas de um livro que já existe, por certo. Suor de um rosto é o meu livro publicado, pensará quem me lê, ou penso eu que já nem me sei ler. Suor de um rosto é uma verdade, ou uma mentira contada vezes sem conta: uma ficção de mim, daquilo que quero transmitir e que um dia quis que alguém lesse. É isso, uma mentira (agora vê Gaga aqui). Provavelmente o livro também o será, mas apetece-me contar-vos essa minha mentira sem me expor na rapidez de umas linhas. Quem transmite alguma coisa aos outros é porque tem a crença que é bom saber-se disso. Existem coisas que não são expostas, pelo menos intuitivamente. Falo por mim e pelo que experimento, é certo. Mas é isso a minha mentira ou a minha verdade. A verdade para mim, uma mentira para os outros, ou simplesmente nada disto.
Saramago, Pessoa e Gaga. É uma heresia juntar isto, pensam os intelectuais. Eu sou uma heresia. Eles são partes de mim. Como o sangue materno que me corre nas veias e hoje comemoro. Como o sangue paterno que o partilha com aquele. Ou como os amores, desamores, as auto e hetero-críticas, as ficções, as árvores, os filhos ou os livros da vida.
Luís Gonçalves Ferreira