terça-feira, 10 de maio de 2011

Morreste-me

Sentimos a partida dos que nos morrem na medida em que os amámos. Dir-se-ia que precisamos deles para respirar: não se trata de um eu que chora e de um tu que parte, mas de um de nós. O outro que morre, quando amado, morre para quem o ama e, curiosamente, nenhuma experiência da vida o torna tão intensamente presente no íntimo de quem o ama como quando morre.

Colapsa tudo por dentro. Temos o coração ferido e nas feridas toca-se devagarinho. Achamos sempre que nunca vamos conseguir suportar a saudade nem sarar o trauma. A Terra deixa de ser redonda porque o horizonte não está lá e o tapete sumiu-nos debaixo dos pés. Os que amamos são fonte de sonhos: toquem-lhes sempre.
Nesses momentos, lidamos mal com as palavras. As que vêm de fora estão, muitas vezes, gastas. À força de as termos dito e ouvido, raramente nos chegam dentro. Falam-nos mais os gestos e a presença demorada. E assim, entregues às recordações e à infinita dor da nossa perda, ouvimos subtilmente a mensagem que precisamos: “Não estás sozinho. Estou contigo”.
Em torno dos que nos morrem, há um silêncio que nos chama para mais perto da Vida. Ouvimos coisas que não sabíamos ou tínhamos esquecido. Contemplando-os, descobrimos mais lúcida e aumentada a nossa capacidade de compreensão e de perdão. Apenas os mil gestos da ternura importam afinal. E dizemos, baixinho, muito gratos: “Bem-hajas!”

A morte, não é, definitivamente, a última palavra sobre nós. É o Amor entre mundos separados. Já não fujo do sonho nem sinto receio do tempo. Já não tenho medo de dançar à chuva como se ninguém estivesse a ver. E isto só porque agora tenho as duas estrelas mais bonitas que brilham no Céu!

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