Nesta era de conformismo, a marca de contraste é a capacidade de manter convicções - não obstinada ou provocatoriamente (isso são gestos de defesa, não de coragem), nem como actos de retaliação, mas, simplesmente, porque são aquilo em que acreditamos.
Ao divagar pelos anos fui aplicando o que acredito em cada área da minha vida, sem deixar que os os meus princípios eternos fossem como se engolidos pela grande complacência ruminante... Estes guardas em valência despertam-me grandes e vagas cortinas legitimadoras de fundo da decência e da bondade, aliada ao humanitarismo.
A gentileza e o altruísmo mundiais, quais dádivas divinas, têm vindo a ser boliscados aquando a catástrofe na ilha Hispaniola, nas Caraíbas, vulgo Haiti. As imagens são avassaladoras, os rostos sôfregos desassossegantes, e a magnitude dos danos é abismal. Em Port-au-Prince, os habitantes continuam a enterrar os seus 112 mil mortos, ao mesmo tempo que vão tratando os feridos. As ajudas internacionais não páram de chegar de todos os cantos do Mundo, desde médicos estrangeiros, mãos para ajudar a reconstruir os destroços, famílias de acolhimento para as casas corrompidas, comida em helicópteros, et ceteras.
Para estes lados, fazem-se espectáculos caridosos, galas de beneficiência, jogos de futebol, contas bancárias, piruetas para inglês-ver - ao mesmo tempo que ainda há momentos deparei-me com índices de taxas de pobreza nacionais exorbitantemente assustadores. A minha questão é: e nós por cá? Alimentamos as nossas crianças e idosos em situações humilhantes por vias diplomáticas? O sucesso e a fama internacional está-nos emiscuído até aos ossos. Desde o século XV que deixámos de visionar, e congratulamos-nos com fantasmas, deixando de cuidar dos nossos. Preferia ter uma reputação de bom senso, de jogo limpo e rectidão, do que ser habitante de uma nação que tira aos seus para dar a quem já está a receber toda a gratidão que necessita. Nenhum prazer se compara ao de ter os pés bem assentes no território priviligiado da verdade. E, perdoem-me a ousadia, mas que cambada de hipócritas que somos!
Portanto, conterrâneos portucalenses, caros leitores e afins, removamos a maquilhagem dos feitos passados e construamos a casa pelo alicerce e não pelo telhado. Ousemos assentar bases perenes de dignidade e integridade humana como paradigma para o que há-de vir.
Podemos ter o coração estilhaçado, mas a Terra não vai parar de girar à espera que o consertemos.
Desculpem-me, mas falar com alma é tudo o que tenho.
Até mais ver,
6 comentários:
Via nos Prós e Contras, aqui há dias, que Portugal vive o complexo de uma criança que cresce muito rápido corporalmente, cujo o desenvolvimento intelectual não consegue acompanhar. O Portugal de hoje, moderno e desenvolvido, está a anos luz do Portugal dos anos 70/80. Hoje, graças à integração europeia, estamos no rol de países desenvolvidos. Como tal, como país que recebe esta designação temos obrigações internacionais que passam, nomeadamente, pela ajuda aos países do Terceiro Mundo. É uma consequência natural da fama e da figuração nos grupos da alta roda diplomática. Em termos económicos, não nos podemos comparar com países com o Haiti, que era, mesmo antes do sismo, o segundo país mais pobre das Américas. Estamos a comparar coisas diferentes. O nível de definição de pobreza em Portugal é feito segundo critérios diferentes dos países do Terceiro Mundo. Uma larga franja dos haitianos vive com menos de 1 dólar/dia. É uma pobreza efectiva e real. Pena que a comunidade internacional só se preocupe do Haiti quando este é atingido por catástrofes naturais, quando o problema de décadas daquela país da Hispaniola é político e governativo. Viver no caos político em muito dá vantagem os EUA e aos restantes países latinos, como o Brasil e a Venezuela (que mais não fazem do que copiar os sistemas de influência exercidos pelos americanos, franceses e ingleses).
O problema de Portugal, na actualidade, e segundo aquele complexo psico-civilizacional de que falei, é pobreza de espírito. O capital e o investimento privados estão adormecidos, porque o investidor tem receio, não é audaz, quando se sabe que o grande impulsionador da economia são os burgueses interventivos e audaciosos. Portugal falha aqui, quando mais não seja pelo apego ao Estado e aos seus ideias socialistas. Somos um povo que sempre gostou de empregos seguros, vitalícios onde o risco pouco existisse. E não é desta argamassa que se fazem os americanos, os ingleses ou os nórdicos. É da argamassa da coragem e não do medo. Do privado e não do público. Do consumo e do investimento. Repara, os 54 milhões de dólares que resultaram do "Hope for Haiti Now", destinados à reconstrução do Haiti, vão dar um grande impulso ao mercado da construção americano, que se encontra em crise, como todos sabemos. É lógico que quem fornecerá o material para reconstruir o Haiti são as empresas americanas. É lógico que nada melhor do que isto para retirar do fosso essas mesmas empresas. É este tipo de jogadas diplomáticas que Portugal não consegue fazer, por pequenez de espírito. Portugal, para alem do deficit civilizacional que tinha antes de 1986, não conseguir, por constrangimento do nosso próprio processo revolucionário, implementar uma dominação neocolonial em relação às ex-colónias.
Pobreza grave em Portugal é a dos idosos, onde as reformas são miseráveis. Grave em Portugal são os dependentes do Estado para sobreviver, esses socio-encostados. Grave é a classe média portuguesa suportar este jugo. Grave é a corrupção que aumenta, porque o Estado se agiganta. Graves são os desempregados que querem trabalhar, mas não conseguem arranjar emprego. Agora, Portugal tem a segurança do Estado Social. Se não fosse ele o Mundo desenvolvido havia mergulhado, nesta crise, no fundo do poço parecido com o que sucedeu após o Crash de 1929. É o Estado Social que salva as pessoas da miséria, mas não pode ser o Estado Social a adormecer as pessoas na sua sombra paternalista.
Nádia, o Haiti não tem Estado Social, nem Neo-Liberal, nem pseudo coisa alguma. O Haiti não tinha sistema de saúde, educacional e administrativo estabilizado. O Haiti vive em crise desde que se conhece, como país O Haiti tinha pouco, e agora menos tem. O Haiti tem gente, muita gente. Gente sem Governo, nem Rei nem Roque nem Pirâmide de Cartas. E o Rei e Roque do Haiti, serão, agora, os países desenvolvidos. E é disso que temos que tirar proveito. As grandes crises humanitárias, perdoem-me a frieza, servem para estimular o consumo privado, fazendo as pessoas gastar dinheiro, para animar o circuito económico. E é do consumo que vivem as economias.
Eu não costumo acreditar em teorias da Conspiração, mas que esta crise ajuda muito os EUA, a Europa e os restantes países do 1.º Mundo lá isso ajuda.
Deixemos de pensar como os nossos pais pensavam nos anos 70, onde, perante a pobreza efectivada as pessoas, cheia de lenços negros na cabeça, só lhe restava o queixume. Portugal tem tudo para ser um país da grande roda internacional, não pode é continuar com mentalidade pesada, enfadonha, onde o investimento e o arrojo saem grandemente prejudicados por tais atitudes. É de nós que o Portugal moderno é feito. Temos uma economia de novo-rico. Contudo, ainda não conseguiremos ser nós o futuro, porque somos uma geração de transição entre o Portugal pré-Europeu e o Europeu. Esperemos é que os actuais políticos não estraguem tudo e frustrem as nossas ilusões com os gigantismos parecidos com D. João V de Portugal, Algarves, Aquém e Além Mar.
Beijoca!
ARRE para a limitação de caracteres do Blogger.
Arre, que me exauriste! Tive que ir buscar os óculos e tudo! Oh Luís, respondo-te pelo telemóvel, que isto de ser extravaganza é impecável, si? Não me obrigues a tirar o casaco aqui: como sabes o meu teclado está empenado :) *
Arre, que me exauriste! Tive que ir buscar os óculos e tudo! Oh Luís, respondo-te pelo telemóvel, que isto de ser extravaganza é impecável, si? Não me obrigues a tirar o casaco aqui: como sabes o meu teclado está empenado :) *
Enviar um comentário