Um dia destes, no calor das canecas, finos e chouriços assados, dei por mim num típico ambiente inóspito de Portuenses sedentos de um feriado, feriado esse que imaginam vagamente que calha a 5 de Outubro. Para eles fim-de-semana prolongado. Para mim não. O que pode ter originado esta enraivecida tentativa funesta de categorizar a nossa História que, não valendo menos do que as outras, acreditem ou não, começa a ser comummente vilipendiada. Aquando isto, resolvi elaborar este rascunho minimamente esclarecedor acerca da Repúplica do nosso jardim para o mar plantado, não vá Camões (do Panteão à Barca dos Prazeres) pedir nacionalidade brasileira.
As últimas décadas do século XIX foram percorridas por sucessivas crises, às quais a monarquia constitucional não foi capaz de responder - novas ideologias no seio dos grupos intelectuais levaram à criação de partidos que fugiam à área monárquica, o desenvolvimento industrial, e as disputas internacionais pela posse do continente africano, que levaram ao Ultimato Inglês, ferindo o orgulho nacional. Após o Regicídio de D. Carlos e respectivo príncipe herdeiro, sobe ao trono D. Manuel II que, apesar da tolerância face à oposição, não conseguiu superar a monarquia por mais de dois anos.
O 5 de Outubro de 1910 trouxe consigo a esperança de ver concretizado o ideal republicano de liberdade e de justiça, contra os privilégios consentidos por uma monarquia decadente, aliada à Igreja Católica. A liberdade, o municipalismo, o associativismo, a assistência social, o ensino e a laicização da sociedade, são algumas das bandeiras do ideário republicano. No entanto, a instabilidade política que se segue à derrocada do sidonismo faz com que a República não resista à fogueira que ateara contra católicos e monárquicos. No dia 28 de Maio de 1926, o general Gomes da Costa leva a cabo, a partir de Braga, um movimento onde conta com o apoio do Comandante Mendes Cabeçadas, a quem o presidente Bernardino Machado entrega o poder, pondo fim à 1ª República. Dão-se os alvores do primeiro Ministério da Ditadura Nacional.
Portugal.Um país re-europeizado e na senda do século XXI, que se presume per si curado dos seus demónios tradicionalistas, retrógados e imperialistas, vocacionado antes para repensar o seu universalismo criador de novos mundos que demos ao Mundo, com os quais convivemos em séculos de odisseias e cuja língua herdaram dessas longos convívios, tropicalizando essa tal "última flor de Lácio" de que falava Olavo Bilac.
As últimas décadas do século XIX foram percorridas por sucessivas crises, às quais a monarquia constitucional não foi capaz de responder - novas ideologias no seio dos grupos intelectuais levaram à criação de partidos que fugiam à área monárquica, o desenvolvimento industrial, e as disputas internacionais pela posse do continente africano, que levaram ao Ultimato Inglês, ferindo o orgulho nacional. Após o Regicídio de D. Carlos e respectivo príncipe herdeiro, sobe ao trono D. Manuel II que, apesar da tolerância face à oposição, não conseguiu superar a monarquia por mais de dois anos.
O 5 de Outubro de 1910 trouxe consigo a esperança de ver concretizado o ideal republicano de liberdade e de justiça, contra os privilégios consentidos por uma monarquia decadente, aliada à Igreja Católica. A liberdade, o municipalismo, o associativismo, a assistência social, o ensino e a laicização da sociedade, são algumas das bandeiras do ideário republicano. No entanto, a instabilidade política que se segue à derrocada do sidonismo faz com que a República não resista à fogueira que ateara contra católicos e monárquicos. No dia 28 de Maio de 1926, o general Gomes da Costa leva a cabo, a partir de Braga, um movimento onde conta com o apoio do Comandante Mendes Cabeçadas, a quem o presidente Bernardino Machado entrega o poder, pondo fim à 1ª República. Dão-se os alvores do primeiro Ministério da Ditadura Nacional.
Acarinho imortalizar os heróis que fincaram as ruas dos meus promenées. Citando W.E.B du Bois, "Chamam-nos Causas grandiosas - a libertação das mulheres, a educação das crianças, a supressão do ódio, do crime e da pobreza - todas estas e muitas mais. Mas chamam com vozes que significam trabalho, sacrifício e morte. Possamos nós descobrir maneira de cumprir a missão".
Abraços e pares de estalos para os troglóditas que não perderam nem perderão preciosos momentos de non-facere a ler isto.
E bom feriado!
2 comentários:
Adorei o balanço. É Inteligente (principalmente no arrojo da Ironia - adorei a do Camões) e entusiasmante.
Eu não gosto do 5 de Outubro. Admito-o, hoje, mais do que nunca. Assumo-o, por o feriado de hoje querer festejar uma coisa sem sentido, no panorama da III República Portuguesa. A tal República implementada, com designíos terroristas e violentos, lá em 1910, não é a mesma República de hoje, em termos de princípios e valores. Não há ideais a festejar, a não ser a organização herdada. Já não se quer assassinar a Igreja, nem o Clero, nem o Rei, nem Contra os Bretões, Marchar Marchar . Não há motivos para festejar uma passagem política que nos afogou em dívidas e precipitou os acontecimentos piores que vivemos até hoje - esse terrível Estado Novo - cobrindo-o de justificações. Deu motivos ao endeusamento de Salazar (o célebre escape à Guerra que o fará apodrecer na cadeira, no pós-2.ª Guerra) e credenciais à ditadura militar que partir, pacificamente, de Braga.
Para mim, a mudança de 1910 não foi a vontade de todos, mas sim de uma elite terrorista, aparecida entre os Adiantamentos à Casa Real e o célebre Ultimatum. Não gosto de imaginar um Portugal sem 5 de Outubro de 1910. Temo que, com tal arrojo dogmático, consiga atingir campos hipotéticos que me aguçem a vontade de viver num mundo irreal.
É a República de hoje que consigo festejar. Não aquela que se inaugurou em 1910 e a que morreu (se é que nasceu?) entre 1926 e 1933, entre cuidados dos generais e uma patologia crónica, que a fez morrer de injustificada, podre.
Atenção, a I República trouxe, contudo, coisas boas aos país. Nomeadamente o Ensino básico obrigatório e a Laicização do Estado.
:D
Um Beijo!
Cara camarada seja vinda a estas andanças!
Vejo que entrou com o folego, força e inteligência que tão bem a caracterizam.
De facto, a nossa história é simplesmente magnífica pautada de acontecimentos que demonstram a destreza mental e física dos portugueses e o 5 de Outubro de 1910 não escapa à regra.
Não é por ser portuguesa nem por sentir um orgulho exarcebado pela nossa nação, mas a verdade é que torna-se necessário olhar para a história e aprender um pouco com os nossos antepassados. Não basta falar, falar e não fazer nada : por que não aliar a eloquência à coragem?!
"Tenho a honra de comunicar que as forças do meu comando, acampadas na Rotunda da Avenida, venceram as tropas monárquicas. Escusado será lembrar o que foram para as forças que tive a honra de comandar essas horas terríveis de luta de um contra dez. " (Relatório do comandante Machado Santos ao Governo Provisório).
Eu quero ver Portugal a renascer das cinzas e que a prosperidade abrace este nobre país!
Beijinhos my dear!
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