segunda-feira, 28 de março de 2011

No baloiço

Rodeado de medo, chegaste, de mansinho, como quem acolhe o tempo na palma das mãos. Sopraste-me rosas, entre ventos... Tudo me fazia lembrar os tempos de menino em que vivia tudo entre as palmilhas dos teus cabelos. Eram os passos da alma, de graça, que me chegavam de tempos a tempos. Ou melhor, através de gente. Reacções físicas e metafísicas iguais. Pressões iguais. Relógios iguais. Era precisamente o tempo que me igualava tudo a ti, pesadamente. Era precisamente o amor pelo tempo que não te queria deixar ir, neste alvores pesados da memória. Não, não é isso a que me quero dedicar neste momento. Não, não é isto que parece arrependimento. Não é a isto - que sabe a um qualquer sentimento negativo, vagamente instalado nas linhas que me preenchem o espaço... o tempo. Partiste, de mansinho, outra vez, para amanhã haver um regresso. Nenhum será tão cândido, puro e autêntico como os destinos que cruzamos, lá longe, na aranha do tempo. Nos sonhos, que me acalentam a noite e as pontas dos dedos, vais regressar como uma desilusão. 

Luís Gonçalves Ferreira

1 comentário:

Anónimo disse...

O Amor é mesmo isso: a inconstância entre passado e futuro. A aparente, maldita e repetitiva coincidência no presente com o outro. O regresso a saber a amargo. Já dizia Vinicius de Moraes que a vida é feita de encontros e desencontros. Conheço uma rapariga que se apaixonou por um tipo ao mesmo tempo que descobre que tem uma doença crónica e provavelmente fatal. A custo e receio óbvio, contou-lhe, e ele, ao invés de "as melhoras" ou uma palavra de força, opta por dedicar um ano a infernizar e boicotar o que se pode chamar de mísera perspectiva de vida. E o mais piadético nisto tudo é ela nunca ter percebido o porquê de tal "resposta". Macabro, não é?
Já é difícil qb confiar em alguém nos dias que correm. Nem quero imaginar no que me aconteceria se isto fosse comigo! :) *