O Muro de Berlim caiu antes de eu nascer. O Mundo só me haveria de conhecer um mês depois, aos quinze dias de Dezembro. Não fui vítima de uma Europa dividida fisicamente, mas aprendi que existiu, cá da periferia do pulmão da Europa dividida, uma divisão ideológica feita entre papéis, no alto-mar, lá no final da Segunda Guerra Mundial. Diferenças ao canto da História, o muro da vergonha era a cisão entre dois mundos, feitos de pólos de dominação, agravados nas descolonizações de outrora, perpetuado pelas armas e as não-Guerras que, não obstante, fizeram os desígnio do Globo, encaminhando-o na História. Os países de Leste parecem ter recuperado daquela corrupção astronómica que os abalava e da máquina comunista de enriquecimento de algumas classes dirigentes (qual sociedade capitalista?). Os países Ocidentais viveram os 30 Anos de Ouro, até à crise dos anos '70, onde uma outra divisão de blocos, a do Primeiro e Terceiro Mundo, se viu nítida, precipitada pelas cabeças dos blocos Capitalista e Comunistas, com razão e sentido lá no Médio Oriente, num espaço entre o Egipto, Jordânia, Irão, Libano, Mediterrâneo e o petróleo.
Hoje, com quase 20 anos de existência, tantos como os que se vergam sobre o muro de Berlim caído, estou cá e vejo. Observo centenas de quilómetros de outros muros da vergonha, entre o México e os Estados Unidos, na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia, em Ceuta ou Melilla. A felicidade que hoje falsamente sentimos não deve fazer esquecer este pedaços de terra que reflectem o conflito entre Estados, que se fazem agravar nas pessoas e se projectar nas falsas utopias. A Berlim de hoje continua dividida, por certo. Não há muro, mas existem clivagens que nenhuma governação conseguiu quebrar. O comunismo não é modelo, mas esta hipocrisia entre estados não pode continuar a sê-lo, por mera hipótese do acaso. Aclamar uma igualdade que não existe é o mesmo que beber sol e comer chuva, sem espaço para ignorâncias e desconhecimentos.
Eu, Europeu Ocidental, não consigo sentir orgulho destas comemorações. Depois de Berlim, existe um Mundo inteiro tolhido pelas divisões com arame farpado. Não são os sistemas que fazem os muros. São as pessoas. Maxime, por compactuarem com as fantochadas que se lhes adiantam no olhar. A culpa não é do Capitalismo ou do Socialismo, de per si, mas antes dos seres que lhes dão razão, por serem a realização física dos teoremas ideológicos.
Até à próxima,
Luís Gonçalves Ferreira
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