terça-feira, 25 de outubro de 2011

Passado imperfeito

Fui-te ver, onde as tuas janelas são o espelho do mar, contemplando o sol a sangrar num horizonte preso entre safira e cobre. Tive medo, pois somos áses nisso. Não sabia como nem onde te procurar, mas era mais certo que a minha própria vontade já lá estar antes de ter chegado. "Já te perdias", transmitiste-me. E eu vibrava por deixar de viver de cor. Já dançámos demais, já fugimos demais, já perdemos demais. De repente, vi aquele rapaz a vaguear por entre as ondas do oceano em que me iria deitar com ele, e percebi. Serias tu? Nas suas águas estão guardadas as recordações de centenas de pessoas, das suas vidas, das suas ilusões, da sua ausência, dos sonhos que nunca chegaram a realizar, das decepções, dos enganos e dos amores não correspondidos que lhes envenenaram as vidas. Não sabia então que o oceano do tempo nos devolve as recordações que nele enterramos. Meses mais tarde, nesse dia, a tua memória voltou até mim. Vestias o olhar de quem vê o que os outros apenas podem sonhar; sorriso de criança, magia e mistérios. Podia ouvir o eco dos meus passos, mas teria jurado que andava um palmo acima do chão. E tu chegaste tão perto, que te apertei no meu peito. Já não era uma miragem. Era a sério, eras tu!
Iria ser quase pecado que se deixa, quase pecado que se ignora. Volvi, o meu Mundo e a ti, docemente, sem premeditações e sem jogos nem mágoas, de passado inquieto a perfeito. E acho que nos vamos deixar ficar, de mãos dadas e almas presas, a contemplar o correr dos dias dos outros que temem amar...